Portuguese Bible – BÍBLIA ON-LINE – Antigo Testamento


[Jó 1]I.
FIEL ATÉ NA MISÉRIA

Jó 1

RETRATO DE UM HOMEM FELIZ
1. Era uma vez um homem chamado Jó, que vivia no país de Hus. Era um
homem íntegro e reto, que temia a Deus e evitava o mal.
2. Tinha sete filhos e três filhas.
3. Possuía também sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas
de bois, quinhentas mulas e grande número de empregados. Jó era o mais rico dos
homens do Oriente.
4. Os filhos de Jó costumavam fazer banquetes, um dia na casa de cada um,
e convidavam as três irmãs para comer e beber com eles.
5. Quando terminavam esses dias de festa, Jó os mandava chamar, para
purificá-los. Ele madrugava e oferecia um holocausto para cada um deles,
pensando: “Talvez meus filhos tenham pecado, ofendendo Deus em seu coração”. E
Jó fazia assim todas as vezes.

EXISTE RELIGIÃO GRATUITA?
6. Certo dia, os anjos se apresentaram a Javé e, entre eles, foi também
Satã.
7. Então Javé perguntou a Satã: “De onde você vem?” Satã respondeu: “Fui
dar uma volta pela terra”.
8. Javé lhe disse: “Você reparou no meu servo Jó? Na terra não existe
nenhum outro como ele: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e evita o
mal”.
9. Satã respondeu a Javé: “E é a troco de nada que Jó teme a Deus?
10. Tu mesmo puseste um muro de proteção ao redor dele, de sua casa e de
todos os seus bens. Abençoaste os trabalhos dele e seus rebanhos cobrem toda a
região.
11. Estende, porém, a mão e mexe no que ele possui. Garanto que ele te
amaldiçoará na cara!”
12. Então Javé disse a Satã: “Pois bem! Faça o que você quiser com o que
ele possui, mas não estenda a mão contra ele”. E Satã saiu da presença de Javé.

A FIDELIDADE DO POBRE
13. Certo dia, os filhos e filhas de Jó comiam e bebiam na casa do irmão
mais velho.
14. Um mensageiro chegou à casa de Jó e lhe disse: “Os bois estavam
arando e as mulas pastando perto deles.
15. Os sabeus caíram sobre eles, mataram os empregados a fio de espada e
levaram o rebanho. Só eu escapei para lhe contar o que aconteceu”.
16. Mal acabara de falar, quando chegou outro e disse: “Caiu um raio do
céu e queimou e consumiu suas ovelhas e pastores. Só eu escapei para lhe contar
o que aconteceu”.
17. Mal acabara de falar, quando chegou outro e disse: “Um bando de
caldeus, dividido em três grupos, caiu sobre os camelos e os levou embora,
depois de matar os empregados a fio de espada. Só eu escapei para lhe contar o
que aconteceu”.
18. Mal acabara de falar, quando chegou outro e disse: “Seus filhos e
filhas estavam comendo e bebendo na casa do irmão mais velho,
19. quando um furacão veio do deserto, atingindo a casa pelos quatro
lados, e ela desabou sobre os jovens e os matou. Só eu escapei para lhe contar o
que aconteceu”.
20. Então Jó se levantou, rasgou a roupa, rapou a cabeça, caiu por terra,

21. e disse: “Nu eu saí do ventre de minha mãe, e nu para ele voltarei.
Javé me deu tudo e Javé tudo me tirou. Bendito seja o nome de Javé!”
22. E, apesar de tudo, Jó não pecou e não acusou Deus de ter feito alguma
coisa injusta.

[Jó 2]Jó 2

ATÉ ONDE O POBRE É FIEL?
1. Certo dia,os anjos se apresentaram a Javé e, entre eles, foi também
Satã.
2. Então Javé perguntou a Satã: “De onde você vem?” Satã respondeu: “Fui
dar uma volta pela terra”.
3. Javé lhe disse: “Você reparou no meu servo Jó? Na terra não existe
nenhum outro como ele: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e evita o mal.
Ele continua firme na sua integridade. E você, a troco de nada, me lançou contra
ele para o aniquilar”.
4. Satã respondeu a Javé: “Pele por pele! O homem dá tudo o que tem para
manter a vida.
5. Estende, porém, a mão e o atinge na carne e nos ossos. Garanto que ele
te amaldiçoará na cara!”
6. Então Javé disse a Satã: “Faça com ele o que você quiser, mas poupe a
vida dele”.
7. E Satã saiu da presença de Javé.

FIDELIDADE ATÉ O FIM Satã feriu Jó com feridas graves, desde a planta do
pé até a cabeça.
8. Então Jó pegou um caco de telha para se coçar, sentado no meio da
cinza.
9. Sua mulher lhe disse: “E você ainda continua em sua integridade?
Amaldiçoe a Deus e morra de uma vez!”
10. Jó respondeu: “Você está falando como louca! Se aceitamos de Deus os
bens, não devemos também aceitar os males?” E, apesar de tudo isso, Jó não
ofendeu a Deus com palavras.

OS AMIGOS: SOLIDARIEDADE OU ACUSAÇÃO?
11. Nesse meio tempo, três amigos de Jó ficaram sabendo de todas as
desgraças que o tinham atingido. Eram eles: Elifaz de Temã, Baldad de Suás e
Sofar de Naamat. Cada um partiu de sua terra e se encontraram para compartilhar
a dor de Jó e o consolar.
12. Quando o viram de longe, não o reconheceram, e começaram a chorar.
Rasgaram a roupa e jogaram pó sobre a cabeça.
13. Depois sentaram-se no chão ao lado dele, por sete dias e sete noites.
Vendo o enorme sofrimento de Jó, não lhe disseram nenhuma palavra.

[Jó 3]II. QUEM ESTÁ ERRADO?

1. PRIMEIRO DEBATE

DESESPERO DE JÓ

Jó 3

MELHOR NÃO TER NASCIDO
1. Então Jóabriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento,
2. dizendo:
3. “Morra o dia em que nasci e a noite em que se disse: ‘Um menino foi
concebido’.
4. Que esse dia se transforme em trevas; que Deus, do alto, não cuide
dele e sobre ele não brilhe a luz.
5. Que as trevas e as sombras o reclamem para si, que uma nuvem o cubra e
um eclipse o torne pavoroso.
6. Que a escuridão se apodere desse dia, que ele não se some aos dias do
ano e não entre na conta dos meses.
7. Que essa noite fique estéril e fechada aos gritos de alegria.
8. Que a maldigam os que maldizem o dia, os que sabem despertar Leviatã.

9. Que as estrelas da sua aurora escureçam, que espere a luz que não vem,
e não veja as pálpebras da alvorada.
10. Pois essa noite não fechou as portas do ventre para mim, e não
escondeu da minha vista tanta miséria.

MELHOR TER SIDO UM ABORTO
11. Por que não morri ao sair do ventre de minha mãe, ou não pereci ao
sair de suas entranhas?
12. Por que dois joelhos me receberam, e dois peitos me amamentaram?
13. Agora eu repousaria tranqüilo e dormiria em paz,
14. junto com os reis e governantes da terra, que construíram túmulos
suntuosos para si,
15. ou com os nobres que possuíram ouro e encheram de prata seus
mausoléus.
16. Agora eu seria um aborto enterrado, uma criatura que não chegou a ver
a luz.
17. Lá embaixo acaba o tumulto dos injustos, e aí repousam os que estão
esgotados.
18. Com eles descansam os prisioneiros, e não ouvem mais a voz do
capataz.
19. Lá embaixo os pequenos se confundem com os grandes, e o escravo fica
liberto do seu patrão.

MELHOR MORRER DO QUE VIVER ASSIM
20. Para que dar luz a um infeliz, e vida para quem vai viver na
amargura?
21. Para que dar luz a quem anseia pela morte que não chega, e que a
procura mais do que a um tesouro?
22. Para que dar luz a quem se alegra diante de um túmulo e exulta diante
da sepultura?
23. Para que dar luz a um homem que não encontra caminho, porque Deus o
cercou de todos os lados?
24. Os soluços são meu alimento, e meus gemidos transbordam como água.

25. O que eu mais temia aconteceu para mim, e o que mais me apavorava me
atingiu.
26. Vivo sem paz, sem tranqüilidade e sem descanso, em contínuo
sobressalto”.

[Jó 4]INTERVENÇÃO DE ELIFAZ

Jó 4

DEUS CASTIGA O INOCENTE?
1. Elifaz deTemã tomou a palavra e disse:
2. “Não sei se você agüentaria se alguém falasse com você. Contudo, quem
poderia permanecer calado?
3. Veja! Você instruiu pessoas e fortaleceu braços enfraquecidos.
4. Com suas palavras, você levantou quem vacilava, e sustentou joelhos
que se dobravam.
5. Pois bem! Hoje é a sua vez. Você não agüenta? Você se perturba hoje,
quando tudo desaba sobre você?
6. O temor de Deus não era a sua confiança, e a sua esperança não era um
comportamento íntegro?
7. Lembre-se bem: quando é que um inocente pereceu, e quando é que os
homens retos foram destruídos?
8. Pelo que eu sei, os que cultivam injustiça e semeiam miséria, são
esses que as colhem.
9. Deus sopra, e eles perecem; o sopro de sua ira os consome.
10. Embora o leão ruja e o leopardo também, os dentes dos filhotes são
quebrados:
11. sem a presa, o leão acaba morrendo, e as crias da leoa debandam.

QUEM PODE TER RAZÃO DIANTE DE DEUS?
12. Escutei uma palavra fugidia, meu ouvido percebeu seu leve sussurro:

13. numa visão noturna de pesadelo, quando o torpor cai sobre os homens,

14. fui tomado por um calafrio de terror, e todos os meus ossos
estremeceram.
15. Um vento passou pelo meu rosto e me provocou arrepios por todo o
corpo.
16. Eu estava em pé, mas não vi quem era. Uma figura apareceu diante de
mim, houve um silêncio, e depois ouvi uma voz:
17. ‘Pode o homem ter razão diante de Deus? Ou pode um mortal ser puro
diante do seu Criador?
18. Ele desconfia até de seus servos, e mesmo em seus anjos descobre
defeitos.
19. Quanto mais nesses que moram em casas de barro e que têm alicerces
sobre a poeira! Serão esmagados mais depressa do que a traça,
20. aniquilados entre o amanhecer e a tarde. Eles perecem para sempre,
pois ninguém os trará de volta.
21. As cordas de sua tenda são arrancadas, e eles morrem sem ter
aprendido a lição’.

[Jó 5]Jó 5

DE ONDE VEM A DESGRAÇA?
1. Grite, para ver se alguém lhe responde. A que anjo você vai recorrer?

2. Porque o despeito mata o insensato, e a inveja causa a morte do
imbecil.
3. Vi um insensato lançar raízes, e num momento sua casa foi amaldiçoada.

4. Seus filhos estão longe de prosperar, são esmagados sem defensor no
tribunal.
5. O faminto devorou as colheitas dele, e o sedento sugou-lhe os bens.

6. A miséria não nasce do pó, e a fadiga não brota da terra.
7. E o homem gera seu próprio sofrimento, como as faíscas voam para cima.

RECORRER A DEUS
8. Em seu lugar, eu recorreria a Deus, e poria a minha causa nas mãos
dele.
9. Ele faz coisas grandiosas e incompreensíveis, e maravilhas sem conta:

10. dá chuva para a terra, e rega os campos;
11. levanta os humildes, e concede prosperidade aos abatidos;
12. malogra os planos do astuto, para que as manobras deste fracassem;

13. apanha os espertos na astúcia deles, e desmonta as tramas do velhaco.

14. Em pleno dia, todos esses caem nas trevas, e ao meio-dia tateiam como
se fosse noite.
15. É assim que Deus salva da língua afiada o pobre, e da mão do poderoso
o necessitado.
16. Desse modo, o fraco tem esperança, e a injustiça fecha a boca.
17. Feliz o homem a quem Deus corrige. Portanto, não despreze a lição do
Todo-poderoso.
18. É Deus quem fere e cura a ferida, quem golpeia e cura com sua própria
mão.
19. Ele é quem liberta você de seis perigos, e no sétimo o mal não mais o
atingirá.
20. Em tempo de fome, salvará você da morte, e na guerra o protegerá do
golpe da espada.
21. Você ficará a salvo do flagelo da língua, e não temerá quando a ruína
chegar.
22. Você rirá do desastre e da fome, e não temerá os animais selvagens.

23. Você fará aliança com os espíritos do campo, e viverá em paz com as
feras.
24. Você terá prosperidade em sua tenda e, visitando sua propriedade,
verá que nada falta.
25. Terá descendência numerosa, e seus filhos serão como erva do campo.

26. Descerá ao túmulo em avançada velhice, como feixe de trigo colhido no
tempo certo.
27. Veja bem! Observamos tudo isso, e é coisa certa. Escute bem, e faça
bom proveito”.

[Jó 6]RESPOSTA DE JÓ

Jó 6

SÓ SABE QUEM SOFRE
1. Então Jó respondeu:
2. “Se pudessem pesar a minha aflição, e colocar na balança a minha
desgraça,
3. seriam mais pesadas que a areia do mar! Por isso, as minhas palavras
são confusas.
4. Levo, cravadas em mim, as flechas do Todo-poderoso, e o meu espírito
bebe o veneno delas; os terrores de Deus se enfileiram contra mim.
5. Por acaso o asno selvagem relincha diante do capim? Ou o boi muge
diante da forragem?
6. Alguém come sem sal algo que não tem gosto? Que sabor tem a clara do
ovo?
7. O que antes me causava nojo de tocar, agora se tornou a minha comida
repugnante.

MORRER PARA NÃO SE REVOLTAR
8. Tomara que se cumpra o que eu pedi, e Deus me conceda o que espero:

9. que ele se digne esmagar-me, e solte sua mão para acabar comigo!
10. Para mim, seria um consolo e, mesmo torturado sem piedade, eu daria
saltos de alegria, por não ter renegado os decretos do Santo!
11. Que forças me restam para agüentar? E aonde espero chegar, para
continuar vivendo?
12. Por acaso tenho a firmeza da pedra? Por acaso eu sou de ferro?
13. Já não encontro apoio em mim mesmo, e todos os recursos me abandonam.

O DEVER DO AMIGO É SOLIDARIZAR-SE
14. A pessoa desesperada tem direito à solidariedade do amigo, mesmo que
tivesse abandonado o temor do Todo-poderoso.
15. Mas os meus irmãos me desiludiram como rios temporários, como
ribeiros que desaparecem do seu leito:
16. no tempo do degelo, transbordam, e se enchem quando a neve se
dissolve;
17. mas no tempo do verão evaporam e, chegando o calor, desaparecem de
seus leitos.
18. Por causa deles, as caravanas mudam a rota, entram pelo deserto e se
extraviam.
19. As caravanas de Temã os procuram, e os mercadores de Sabá contam com
eles.
20. Mas a sua esperança é frustrada e, chegando a esse lugar, ficam
desiludidos.
21. Assim são vocês. Tornaram-se um nada para mim, pois estão vendo algo
terrível, e sentem medo.

EM QUE FOI QUE ERREI?
22. Por acaso eu pedi que vocês me dessem alguma coisa? Ou que se
oferecesse suborno do bolso de vocês?
23. Ou que me livrassem do meu adversário? Ou que me resgatassem do poder
de algum tirano?
24. Vocês me expliquem, e eu ficarei em silêncio. Façam-me ver em que foi
que errei.
25. Como seria bom ouvir palavras justas! Mas o que é que provam as
provas de vocês?
26. Vocês pretendem criticar as minhas palavras? As palavras do
desesperado se dirigem ao vento!
27. Vocês seriam capazes de sortear um órfão e vender seu próprio amigo.

28. Pois bem! Olhem atentamente para mim: juro que não vou mentir diante
de vocês.
29. Voltem para trás e não sejam injustos. Voltem atrás, pois a minha
inocência está em jogo.
30. Por acaso existe falsidade nos meus lábios? Ou a minha boca não
distingue mais a desgraça?

[Jó 7]Jó 7

O TEMPO NÃO PASSA…
1. O homem vive na terra cumprindo um serviço militar, e seus dias são
como os do diarista:
2. tal e qual um escravo, ele suspira pela sombra e, como o diarista,
espera pelo seu salário.
3. Assim, a minha herança são meses de ilusão, e a mim couberam noites de
fadiga.
4. Ao me deitar, fico pensando: ‘Quando me levantarei?’ A noite é muito
longa, e me canso de ficar rolando na cama até a aurora.
5. Minha carne está cheia de vermes e feridas, e minha pele se rompe e
supura.

…E A VIDA É UM SOPRO
6. Meus dias correm velozes como a lançadeira, e se consomem sem qualquer
esperança.
7. Lembra-te! A minha vida é um sopro, e os meus olhos nunca mais verão a
felicidade.
8. Os olhos de quem me vê, não me enxergarão mais. Teus olhos me
procurarão, mas eu já não existirei.
9. Como nuvem que passa e se desfaz, quem desce ao túmulo, nunca mais
subirá;
10. nunca mais retornará à sua casa, e sua morada nunca mais o reverá.

11. Por isso, não ficarei calado; meu espírito angustiado falará e minha
alma entristecida se queixará.
12. Por acaso sou o Mar ou o Dragão, para me colocares mordaça?
13. Quando penso que o leito me aliviará e minha cama abrandará meus
gemidos,
14. então me espantas com sonhos e me aterrorizas com pesadelos.
15. Eu preferiria morrer sufocado. Antes a morte do que estas dores!
16. Eu não vou viver para sempre! Deixa-me, pois os meus dias são apenas
um sopro.

NÃO É MELHOR PERDOAR?
17. O que é o homem, para fazeres tanto caso dele, para fixares tua
atenção sobre ele,
18. a ponto de examiná-lo a cada manhã e testá-lo a cada momento?
19. Por que não paras de me espionar, deixando-me ao menos engolir a
saliva?
20. Caso eu tenha pecado, o que foi que eu te fiz? Espião da humanidade,
por que me tomaste como alvo, e me transformaste em peso para ti?
21. Por que não perdoas o meu pecado, e não afastas de mim a minha culpa?
Olha! Logo eu me deitarei no pó: tu me procurarás tateando, e eu não existirei
mais”.

[Jó 8]INTERVENÇÃO DE BALDAD

Jó 8

DEUS É JUSTO
1. Baldad de Suás tomou a palavra e disse:
2. “Até quando você vai falar dessa maneira? Suas palavras são como
furacão.
3. Pode Deus torcer o direito? Pode o Todo-poderoso perverter a justiça?

4. Se os seus filhos pecaram contra Deus, ele já os entregou ao poder dos
próprios crimes.
5. Mas, se você procurar Deus, se suplicar ao Todo-poderoso,
6. e se conservar puro e reto, ele cuidará de você e o restaurará na sua
legítima prosperidade.
7. Sua situação anterior parecerá coisa pequena em comparação com a
grandeza do seu futuro.

OS INJUSTOS SÃO CASTIGADOS
8. Consulte as gerações passadas e observe a experiência de nossos
antepassados.
9. Nós nascemos ontem e não sabemos nada. Nossos dias são como sombra no
chão.
10. Os nossos antepassados, no entanto, vão instruí-lo e falar a você com
palavras tiradas da experiência deles.
11. Por acaso, brota o papiro fora do pântano? Ou pode o junco crescer
sem água?
12. Ainda verde para ser colhido, ele seca antes de todas as ervas.
13. Tal é o destino de quem se esquece de Deus, e assim desaparece a
esperança do injusto.
14. A confiança do injusto é um fio frágil, e sua segurança é uma teia de
aranha:
15. se alguém nela se apóia, ela não agüenta; se alguém a ela se agarra,
ela não o sustenta.
16. Cheia de seiva ao sol, a árvore estende os ramos por todo o jardim,

17. lança raízes entre as pedras e vive no meio das rochas,
18. mas se for arrancada do seu lugar, este a renega, dizendo: ‘Nunca vi
você’.
19. Assim termina sua alegre história, e outras plantas brotam do mesmo
chão.
20. Note bem: Deus não rejeita o homem íntegro, nem faz aliança com
malfeitores.
21. Ele encherá de novo sua boca de sorrisos e seus lábios com gritos de
alegria.
22. Seus inimigos ficarão cobertos de vergonha, e a tenda dos injustos
desaparecerá”.

[Jó 9]RESPOSTA DE JÓ

Jó 9

QUEM PODE DISPUTAR COM DEUS?
1. Então Jó respondeu:
2. “Eu sei muito bem que é assim. Como pode um homem ter razão diante de
Deus?
3. Se alguém quisesse disputar com Deus, este não lhe responderia uma só
vez entre mil.
4. Qual o sábio ou forte que se opôs a ele, e saiu ileso?
5. Ele desloca as montanhas sem que elas percebam e, na sua ira, as
arranca do lugar.
6. Ele abala os alicerces da terra, e as colunas dela estremecem.
7. Ele manda que o sol não se levante, e esconde as estrelas.
8. Ele sozinho estende o céu, e caminha sobre as ondas do mar.
9. Ele criou a Ursa e o Órion, as Plêiades e constelações do Sul.
10. Ele faz prodígios insondáveis e maravilhas sem conta.
11. Ele passa junto a mim, e eu não o vejo. Roça em mim, e eu nem sinto.

12. Se apanha uma presa, quem a tirará dele? Quem poderá dizer-lhe: ‘O
que estás fazendo?’
13. Deus não reprime a sua própria ira, e debaixo dele se curvam as
legiões de Raab.

DEUS É ARBITRÁRIO?
14. Muito menos eu lhe poderei responder, ou escolher argumentos contra
ele.
15. Mesmo que eu tivesse razão, não receberia resposta, e teria que
implorar misericórdia ao meu juiz.
16. Mesmo que eu o convocasse e ele me respondesse, não creio que me
daria atenção.
17. Pelo contrário: ele me esmagaria no furacão, e sem motivo
multiplicaria as minhas feridas;
18. não me deixaria nem ao menos tomar fôlego, e me encheria de amargura.

19. Recorrer à força? Ele é o mais forte! Recorrer ao tribunal? Quem o
convocará?
20. Mesmo que eu fosse inocente, sua boca me condenaria; mesmo que eu
fosse inocente, ele me declararia culpado.
21. Será que sou inocente? Já nem sei mais! Desprezo a vida.
22. Garanto a vocês que tudo é a mesma coisa: ele extermina tanto o
inocente como o injusto.
23. Se uma catástrofe semeia morte repentina, ele zomba da desgraça do
inocente.
24. Ele entrega o país na mão do injusto e fecha os olhos de seus juízes:
se não for ele, quem é que faz isso?

SE HOUVESSE UM ÁRBITRO ENTRE DEUS E O HOMEM!
25. Meus dias correm mais depressa que um atleta, e fogem sem ter provado
a felicidade;
26. deslizam como barcas de papiro, como águia que cai em cima da presa.

27. Se penso: ‘Vou esquecer o meu sofrimento e ficar de rosto alegre’,

28. fico com medo de todo tipo de desgraça, pois eu sei que ele não me
absolverá.
29. E se por acaso sou culpado, por que me cansar à toa?
30. Ainda que eu me esfregasse com sabão, e lavasse minhas mãos com soda,

31. tu me atirarias na lama, e minhas roupas teriam nojo de mim.
32. É que Deus não é um homem como eu, para que eu possa dizer-lhe:
‘Vamos comparecer juntos no tribunal’.
33. Se houvesse entre nós um árbitro, que pusesse as mãos sobre nós dois!

34. Ele afastaria de mim a vara de Deus, para que eu não enlouquecesse
com seu terror.
35. Então eu poderia falar sem medo; do contrário, não sou dono de mim
mesmo.

[Jó 10]Jó 10

COMO ENTENDER ISSO?
1. Estou cansado da minha vida! Vou entregar-me às queixas, falando com
toda a amargura do meu coração.
2. Vou pedir a Deus: ‘Não me condenes! Conta-me o que tens contra mim’.

3. Será que te divertes em me oprimir, desprezando a obra de tuas mãos
para favorecer os projetos dos injustos?
4. Por acaso tens olhos de carne, e vês apenas como o homem vê?
5. Por acaso teus dias são como os dias de um mortal, e teus anos como os
anos de um ser humano,
6. para sondares a minha culpa e investigares o meu pecado,
7. mesmo sabendo que não sou culpado, e que ninguém me pode livrar da tua
mão?

SERÁ QUE DEUS É SÁDICO?
8. Tuas mãos me formaram e modelaram o meu ser inteiro. E agora tu te
voltas contra mim, para me aniquilar?
9. Lembra-te! Tu me fizeste do barro. Queres agora fazer-me voltar ao pó?

10. Não me derramaste como leite e me coalhaste como queijo?
11. Tu me revestiste de pele e carne, e me teceste de ossos e nervos.
12. Tu me concedeste vida e favor, e tua providência conservou a minha
respiração.
13. Contudo, alguma coisa tu guardavas escondida. Agora eu sei que tinhas
esta intenção:
14. Se eu pecasse, tu me surpreenderias em flagrante, e não deixarias a
minha culpa sem castigo.
15. Se eu fosse culpado, ai de mim! Se eu fosse inocente, não poderia
levantar a cabeça, pois estou cheio de vergonha e embriagado de miséria.
16. Se levanto a cabeça, tu me caças, altivo como leão, e multiplicas
tuas proezas contra mim.
17. Tu repetes teus assaltos contra mim, contra mim redobras tua ira, e
contra mim lanças tropas descansadas.

DEIXA-ME, E EU VIVEREI UM POUCO
18. Por que me tiraste do ventre materno? Eu poderia ter morrido, e
ninguém me teria visto.
19. Eu seria como alguém que nunca existiu, levado do ventre para o
túmulo.
20. Como são poucos os dias da minha vida! Deixa-me, para que eu possa
respirar um pouco,
21. antes que eu me vá para nunca mais voltar, para o país da treva e da
sombra da morte,
22. para o país onde a aurora é noite negra, onde a sombra da morte cobre
a confusão, e onde a claridade é escuridão”.

[Jó 11]INTERVENÇÃO DE SOFAR

Jó 11

DEUS CONHECE AS PESSOAS FALSAS
1. Então Sofar de Naamat tomou a palavra e disse:
2. “Será que esse palavreado vai ficar sem resposta? O charlatão acabará
tendo razão?
3. Seu palavrório vai calar os outros? Vai ficar zombando, sem que
ninguém o repreenda?
4. Você falou: ‘Meu comportamento é limpo. Sou puro diante dos teus
olhos’.
5. Ah, se Deus quisesse falar, e abrir a boca contra você!
6. Se ensinasse a você os segredos da sabedoria, que são tão difíceis de
entender, então você saberia que Deus perdoa parte da sua culpa.
7. Por acaso você pretende sondar o íntimo de Deus, ou penetrar na
perfeição do Todo-poderoso?
8. Ela é mais alta do que o céu. O que pode você fazer? Ela é mais
profunda que o abismo. O que pode você saber?
9. Ela é mais ampla que a terra e mais larga que o mar.
10. Se ele se apresenta para prender e convocar o tribunal, quem poderá
impedi-lo?
11. Ele conhece as pessoas falsas e sem fazer esforço discerne o crime.

12. É mais fácil um asno selvagem ser domesticado, do que um idiota criar
juízo.

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O JEITO É SE CONVERTER
13. Se você dirigir seu coração a Deus, e para ele estender as mãos;
14. se você afastar de suas mãos a maldade, e não hospedar a injustiça em
sua tenda,
15. então você poderá levantar o rosto sem mancha, e não terá medo nas
dificuldades.
16. Você esquecerá suas desgraças, ou se lembrará delas como águas
passadas.
17. Sua vida brilhará como o sol do meio-dia, e a escuridão será para
você como a aurora.
18. Você terá tranqüilidade na esperança e, olhando ao redor, se deitará
tranqüilo.
19. Você dormirá sem sobressaltos, e muitos procurarão os seus favores.

20. Quanto aos injustos, os olhos deles ficarão cegos, e não encontrarão
escapatória. A esperança deles será o último suspiro”.

[Jó 12]RESPOSTA DE JÓ

Jó 12

DEUS DESORIENTA OS SÁBIOS
1. Então Jó respondeu:
2. “Como vocês são importantes! A sabedoria vai morrer junto com vocês!

3. Todavia, eu também tenho inteligência, e não sou inferior a vocês.
Quem não sabe tudo isso?
4. Eu me tornei motivo de zombaria para os meus amigos, eu que gritava a
Deus para ter uma resposta. Zombam de mim, que sou inocente e íntegro.
5. Os que estão satisfeitos dizem: ‘Desprezo para o infeliz, empurrão
para quem está escorregando’.
6. Enquanto isso, existe paz na tenda dos ladrões e aqueles que desafiam
a Deus vivem tranqüilos, pensando que o têm na palma da mão.
7. Pergunte aos animais, que eles instruirão você. Pergunte às aves do
céu, que elas o informarão.
8. Pergunte aos répteis do chão, que eles lhe darão lições. Os peixes do
mar lhe contarão tudo isso.
9. Entre todos esses seres, quem não sabe que foi a mão de Javé que fez
tudo isso?
10. Nas mãos dele está a vida de todos os viventes e a respiração de todo
ser humano.
11. Não é o ouvido que distingue as palavras, e o paladar que saboreia os
alimentos?
12. Por acaso, os anciãos não estão destinados a ter sabedoria, e os
velhos a ter prudência?
13. Em Deus estão a sabedoria e a força, a ele pertencem a perspicácia e
a inteligência.
14. O que ele destrói, ninguém reconstrói; se ele aprisiona, não há
escapatória.
15. Se ele retém a chuva, tudo se resseca; se ele a solta, a terra se
inunda.
16. Ele possui a força e a eficácia, e dele dependem tanto o enganado
como o enganador.
17. Ele torna estúpidos os intelectuais, e enlouquece os juízes.
18. Despoja os reis de suas insígnias, e os amarra pela cintura com uma
corda.
19. Faz os sacerdotes andar descalços, e transtorna os poderosos.
20. Tira a palavra dos oradores, e priva de sensatez os anciãos.
21. Espalha desprezo sobre os aristocratas, e afrouxa o cinturão dos
militares.
22. Arranca das trevas os segredos, e traz à luz as coisas obscuras.
23. Engrandece as nações, e depois as arruína; desenvolve as nações, e as
abandona.
24. Torna loucos os chefes de estado, e os extravia numa confusão sem
saída.
25. Eles caminham às apalpadelas numa escuridão lúgubre, cambaleando como
bêbados.

[Jó 13]Jó 13

CALEM-SE! VOU PROTESTAR CONTRA DEUS
1. Eu vi tudo isso com os meus próprios olhos, ouvi com os meus próprios
ouvidos e compreendi:
2. o que vocês sabem, eu também sei. Não sou inferior a vocês.
3. Contudo, eu quero acusar o Todo-poderoso, desejo discutir com Deus.

4. Vocês são apenas manipuladores de mentiras, são todos meros
charlatães.
5. Oxalá vocês ficassem calados! Seria o melhor ato de sabedoria!
6. Ouçam agora a minha defesa, prestem atenção aos meus argumentos.
7. Ou vocês pretendem defender a Deus, usando mentiras e injustiças?
8. Vocês querem tomar o partido de Deus e se tornarem advogados dele?
9. E se ele examinasse vocês? Será que o enganariam como se engana a um
homem?
10. Se vocês forem parciais secretamente, ele os reprovará com
severidade.
11. A majestade dele não lhes dá medo? O terror dele não cai sobre vocês?

12. As lições que vocês aprenderam são cinzas, e suas defesas são de
barro.
13. Calem-se, que agora sou eu que vou falar. Agora eu vou falar,
aconteça o que acontecer.
14. Vou arriscar tudo, vou jogar com minha própria vida.
15. Ainda que ele queira me matar, não me importo; diante dele vou
defender o meu comportamento.
16. Para mim isso já seria uma vitória, porque nenhum hipócrita pode
apresentar-se diante dele.

EU SEI QUE SOU INOCENTE
17. Escutem bem as minhas palavras, prestem atenção ao que vou declarar:

18. Eu preparei a minha defesa, e sei que sou inocente.
19. Alguém quer discutir comigo? Calar agora, seria morrer.
20. Assegura-me, Deus, duas coisas apenas, e eu não me esconderei de tua
presença:
21. afasta de mim a tua mão e não me amedrontes com o teu terror.
22. Depois, podes me acusar, e eu te responderei. Ou então falarei
primeiro, e tu me responderás depois.
23. Quantas são as minhas culpas e os meus pecados? Mostra-me as minhas
transgressões e os meus pecados.
24. Por que escondes o teu rosto, e me tratas como teu inimigo?
25. Por que assustas uma folha que o vento carrega, e persegues uma palha
seca?
26. Por que rediges contra mim sentenças amargas e me obrigas a assumir
os erros da minha juventude?
27. Por que colocas os meus pés no cepo, vigias todos os meus passos e
examinas todas as minhas pegadas?

A CONDIÇÃO HUMANA É FRÁGIL
28. Como odre e como veste roída pela traça, se desgasta

[Jó 14]Jó 14

1. o homem nascido de mulher: tem vida curta e cheia de inquietação.
2. Ele se abre como flor, e logo murcha; foge como a sombra, sem parar.

3. E tu cravas teus olhos num ser assim, e o citas para um processo
contigo?
4. Mas quem pode tirar o puro do impuro? Ninguém.
5. Se os dias do homem já estão contados e tu sabes o número de seus
meses; se lhe fixaste um limite intransponível,
6. afasta dele o teu olhar e deixa-o em paz, de modo que ele possa
usufruir do seu salário como um empregado.
7. Uma árvore tem esperança: mesmo que a cortem, ela volta a brotar e
seus ramos continuam a crescer.
8. Embora suas raízes envelheçam na terra e seu tronco esteja amortecido
no solo,
9. ao cheiro da água ela solta brotos e produz folhagem como planta nova.

10. O homem, porém, morre e fica inerte. Para onde vai o homem quando
expira?
11. As águas do mar podem acabar, os rios podem baixar e secar,
12. mas o homem que jaz, não se levantará. O céu passará, e o homem não
vai despertar, nem acordar do seu sono.

DEUS SENTE SAUDADE DO HOMEM?
13. Oxalá me guardasses escondido no túmulo, até que passasse a tua ira e
marcasses um prazo para te lembrares de mim!
14. Quando morre, o homem poderá talvez reviver? Eu ficaria esperando
durante todos os dias do meu serviço, até que chegasse a hora da mudança de
turno;
15. com saudade da obra de tuas mãos, tu me chamarias e eu responderia.

16. Então tu não controlarias mais os meus passos e não vigiarias os meus
pecados.
17. Fecharias num saco os meus erros e passarias cal sobre as minhas
culpas.
18. A montanha se inclina e cai, a rocha se move do seu lugar,
19. a água corre e desgasta as pedras, a enxurrada arrasta as terras, e
tu destróis a esperança do homem!
20. Tu o abates para sempre, e ele se vai. Desfiguras o rosto dele e o
expulsas.
21. Se seus filhos serão felizes, ele não sabe; se seus filhos vão se
arruinar, ele desconhece.
22. Ele só sente o tormento da própria carne, sente o sofrimento de sua
própria alma”.

[Jó 15]2. SEGUNDO DEBATE

INTERVENÇÃO DE ELIFAZ

Jó 15

VOCÊ ESTÁ DESTRUINDO A RELIGIÃO!
1. Elifaz de Temã tomou a palavra e disse:
2. “Por acaso um sábio responde com doutrinas falsas, ou se incha com o
vento leste,
3. argumentando com razões inconsistentes ou palavras sem sentido?
4. Você está destruindo a religião e eliminando a oração!
5. Suas culpas inspiram suas palavras, e você usa a linguagem dos
astutos.
6. Quem condena você é sua própria boca, e não eu; são suas palavras que
testemunham contra você.
7. Por acaso foi você o primeiro homem a nascer? Será que você veio ao
mundo antes das colinas?
8. Por acaso você foi admitido no conselho secreto de Deus e se apropriou
da sabedoria?
9. O que sabe você que nós não sabemos? O que entende você que nós não
entendemos?
10. Entre nós há anciãos de cabelos brancos, e alguns de nós são mais
velhos que o seu pai.
11. Não está você fazendo pouco caso das nossas consolações divinas e das
palavras equilibradas que dizemos a você?
12. Como a paixão arrebata você e como seus olhos saltam para fora,
13. quando você joga o seu rancor contra Deus, soltando protestos com a
boca!
14. Como pode o homem ser puro, como pode ser inocente quem nasceu de
mulher?
15. Deus não confia nem mesmo em seus anjos, nem o céu é puro aos olhos
dele.
16. Quanto menos o homem detestável e corrompido, que bebe injustiça como
água!

O INJUSTO ACABA SEMPRE MAL
17. Escute-me, que eu vou instruir você. Vou contar-lhe aquilo que vi,

18. aquilo que os sábios transmitiram, sem nada ocultar, conforme
receberam de seus antepassados,
19. a quem foi dado o país, sem que nenhum estrangeiro se instalasse no
meio deles.
20. O injusto vive em contínuo tormento, e poucos são os anos reservados
ao tirano.
21. Gritos de terror ressoam nos ouvidos dele e, quando está em paz, é
assaltado pelo bandido.
22. Não tem esperança de voltar das trevas, porque está destinado ao fio
da espada;
23. é jogado como pasto dos urubus, e sabe que sua ruína é iminente. O
dia tenebroso
24. o apavora, a angústia e a inquietação o assaltam, como rei pronto
para o ataque.
25. Porque ele estendeu a mão contra Deus e desafiou o Todo-poderoso.
26. Investiu contra ele de cabeça abaixada, protegido por escudo
blindado,
27. com o rosto massageado de gordura e os músculos dos rins bem ungidos.

28. Ele habitará cidades abandonadas, casas desabitadas que ameaçam ruir.

29. Não poderá se enriquecer, e sua fortuna não vai durar, nem poderá
levar seus bens para o túmulo,
30. nem escapará das sombras. A chama queimará seus brotos, e o vento
arrancará suas flores.
31. Que ele não confie na ilusão que engana, porque a ilusão será a sua
recompensa.
32. Antes do tempo, suas folhas murcharão, e seus ramos nunca mais
ficarão verdes.
33. Será como videira que deixa cair suas uvas verdes, como oliveira que
perde sua florada.
34. A descendência dos injustos é estéril, e o fogo devorará a tenda do
homem enganador.
35. Quem concebe a maldade, dá à luz a desgraça, e gera no ventre a
desilusão”.

[Jó 16]RESPOSTA DE JÓ

Jó 16

FALAR É FÁCIL
1. Então Jó respondeu:
2. “Já ouvi mil discursos semelhantes. Vocês são consoladores importunos!

3. Vocês me dizem: ‘Será que não há limite para discursos vazios? O que é
que leva você a responder assim?’
4. Também eu seria capaz de falar como vocês, se vocês estivessem em meu
lugar. Eu os afogaria com palavras, balançando a cabeça contra vocês.
5. Será que eu os confortaria com a minha boca? Ou a compaixão frearia os
meus lábios?
6. Mas ainda que eu fale, a minha dor não pára; ainda que eu me cale, ela
não se afasta de mim.

DEUS SE LEVANTA CONTRA MIM
7. Agora, porém, Deus me esgotou, e destruiu toda a minha família.
8. Ele se levanta como testemunha contra mim e o meu caluniador me acusa
na cara.
9. A ira de Deus me ataca e me dilacera, range os dentes contra mim e
crava em mim os seus olhos hostis.
10. Abrem contra mim a boca e me esbofeteiam com suas afrontas, todos em
massa contra mim.
11. Deus me entrega como presa aos perversos, e me entrega na mão dos
injustos.
12. Eu vivia tranqüilo, e ele me esmagou. Agarrou-me pela nuca e me
triturou, fazendo de mim o seu alvo.
13. Com seus arqueiros ele me rodeou, me atravessou os rins sem piedade,
e derramou por terra o meu fel.
14. Abriu minha carne com mil brechas, e como guerreiro me assaltou.

TENHO UMA TESTEMUNHA DE DEFESA
15. Costurei um pano de saco, a fim de cobrir a minha pele, e mergulhei o
meu rosto no pó.
16. A minha face está vermelha de tanto chorar, e a sombra rodeia as
minhas pálpebras,
17. embora não haja violência em minhas mãos, e minha oração seja
sincera.
18. Terra, não cubra o meu sangue, nem o meu clamor seja abafado.
19. Desde agora tenho uma testemunha no céu, e o meu defensor está lá em
cima.
20. Ele interpretará as minhas queixas diante de Deus, enquanto diante de
Deus os meus olhos derramam lágrimas.
21. Que ele julgue entre o homem e Deus, como se costuma fazer entre as
pessoas,
22. porque o número limitado dos meus anos passará, e eu farei a viagem
sem retorno.

[Jó 17]Jó 17

ONDE ESTÁ A MINHA ESPERANÇA?
1. A minha respiração se perturba, os meus dias se apagam, e o sepulcro
me espera.
2. Estou cercado de zombarias e farto de provocações.
3. Sejas tu o meu fiador diante de ti mesmo, pois nenhum outro se
empenharia em ser meu fiador.
4. Tu fechaste a mente deles para o raciocínio e por isso não poderão
triunfar.
5. São como alguém que convida os amigos para um banquete, enquanto seus
próprios filhos morrem de fome.
6. Eu me tornei motivo de piada no meio do povo, alguém que recebe
cuspidas no rosto.
7. Meus olhos se consomem irritados, e meus membros definham como sombra.

8. Ao ver isso, os justos se espantam, e o inocente fica indignado contra
o injusto.
9. Mas o justo persiste no seu caminho, e quem tem mãos puras redobra a
coragem.
10. Voltem-se todos, e venham, e entre vocês eu não vou encontrar nenhum
sábio.
11. Os meus dias passam, e fracassam os meus projetos e os desejos do meu
coração.
12. Transformam a noite em dia, e dizem que a luz está perto, quando já
estão chegando as trevas.
13. Não espero mais nada. O túmulo é a minha casa, e nas trevas farei a
minha cama.
14. Eu digo ao túmulo: ‘Você é o meu pai’. E digo aos vermes: ‘Vocês são
minha mãe e minha irmã’.
15. Onde está a minha esperança? Alguém viu a minha esperança por aí?
16. Ela descerá comigo ao túmulo, quando juntos nos afundarmos no pó”.

[Jó 18]INTERVENÇÃO DE BALDAD

Jó 18

O DESTINO DO INJUSTO
1. Baldad de Suás tomou a palavra e disse:
2. “Quando é que você vai acabar com esse palavreado? Pense bem, e depois
conversaremos.
3. Por que você nos considera como animais e pensa que somos idiotas?
4. Você se dilacera com sua própria raiva. Será que a terra vai ficar
desabitada por sua causa? Ou será que as rochas vão mudar de lugar?
5. A luz do injusto se apagará, e o fogo do seu lar não brilhará mais.

6. A luz de sua tenda se escurecerá, e a lâmpada que está sobre ele se
apagará.
7. Os seus passos vigorosos ficarão curtos, e os seus próprios projetos o
derrubarão.
8. Com seus próprios pés ele cai numa rede e caminha sobre uma armadilha.

9. Um laço o prende pelo calcanhar, e o segura firme.
10. A corda está escondida no chão, e a armadilha no seu caminho.
11. Os terrores o rodeiam e amedrontam, perseguindo-o em cada passo.
12. A sua prosperidade se transformará em carestia, e a desgraça estará
de pé a seu lado.
13. A doença devora sua pele, e a peste rói seus membros.
14. Será arrancado de sua tenda na qual confiava e será arrastado à
presença do rei dos terrores.
15. Já se pode habitar na tenda que não pertence mais a ele,
espalhando-se enxofre na sua moradia.
16. Em baixo, suas raízes secarão e, no alto, seus ramos serão cortados.

17. Sua lembrança desaparecerá da terra, e seu nome será esquecido na
vizinhança.
18. Será expulso da luz para as trevas, e exilado para fora do mundo.
19. Não terá família nem filhos entre seu povo, e não deixará
sobrevivente em seu território.
20. O ocidente se espantará com o destino dele, e o oriente ficará
horrorizado.
21. Esse é o destino do injusto, a situação de quem não reconhece a
Deus”.

[Jó 19]RESPOSTA DE JÓ

Jó 19

SOLIDARIEDADE PRODUZ COMPREENSÃO
1. Então Jó respondeu:
2. “Até quando vocês continuarão a me afligir e a magoar-me com suas
palavras?
3. Já por dez vezes vocês me insultaram, e não se envergonham de zombar
de mim.
4. Se eu por acaso tivesse errado, o erro seria problema meu.
5. Vocês querem cantar vitória, jogando-me na cara a minha vergonha?
6. Fiquem sabendo que foi Deus quem violou o meu direito e me envolveu em
suas redes.
7. Eu grito: ‘Violência!’ E ninguém me responde. Peço socorro, e não me
fazem justiça.
8. Deus cercou o meu caminho, e não tenho saída; ele encheu de trevas a
minha estrada.
9. Despojou-me da minha honra, e me tirou a coroa da cabeça.
10. Ele destruiu tudo ao meu redor, e tenho de ir embora; arrancou a
árvore da minha esperança.
11. Sua ira se inflama contra mim, e ele me trata como a seu inimigo.
12. Seus esquadrões chegam em massa, abrem caminho até mim, e fazem um
cerco ao redor da minha tenda.
13. Meus irmãos me abandonam, e meus parentes me tratam como estranho.

14. Os vizinhos e conhecidos desapareceram, e os meus familiares me
esqueceram.
15. Minhas empregadas me tratam como estranho, como se eu fosse um
desconhecido.
16. Chamo o meu empregado, e ele não me responde, mesmo que eu lhe
implore.
17. A minha mulher tem nojo do meu hálito, e os meus irmãos têm nojo do
meu cheiro.
18. Até as crianças me desprezam e, quando tento me levantar, elas me
cobrem de insultos.
19. As pessoas mais íntimas têm horror de mim, e contra mim se voltam os
amigos mais próximos.
20. A minha carne apodrece por baixo da pele, e os meus ossos se desnudam
como dentes.
21. Tenham piedade, meus amigos, tenham piedade de mim, porque a mão de
Deus me feriu.
22. Por que vocês me perseguem como Deus, e não se cansam de me torturar?

O MEU REDENTOR ESTÁ VIVO
23. Oxalá escrevessem estas minhas palavras e as gravassem numa placa,

24. e com cinzel de ferro e estilete fossem escritas para sempre na
rocha:
25. ‘Eu sei que o meu redentor está vivo e que no fim se levantará acima
do pó.
26. Mesmo com a pele aos pedaços e em carne viva, eu verei a Deus.
27. Eu mesmo o verei, e não outro; eu o verei com os meus próprios
olhos’. Minhas entranhas queimam dentro de mim.
28. E se vocês disserem: ‘Como vamos persegui-lo? Que pretexto
encontraremos para acusá-lo?’,
29. temam a espada, pois a espada pune a injustiça, e vocês reconhecerão
que existe um juiz”.

[Jó 20]INTERVENÇÃO DE SOFAR

Jó 20

O TRIUNFO DOS INJUSTOS É PASSAGEIRO
1. Sofar de Naamat tomou a palavra e disse:
2. “Meus pensamentos me obrigam a responder, pois eu me sinto inquieto.

3. Acabo de ouvir uma lição insolente, e por isso minha razão me leva a
replicar.
4. Você não sabe que desde sempre, desde quando o homem foi colocado
sobre a terra,
5. o triunfo dos injustos é passageiro e a alegria do perverso dura
apenas um instante?
6. Embora sua ambição se eleve até o céu e toque com sua cabeça as
nuvens,
7. ele perecerá para sempre como esterco e os que o viam, agora
perguntam: ‘Onde está ele?’
8. Ele se desfaz como um sonho, e não o encontram; ele desaparece como
visão noturna.
9. Os olhos que o viam, não o verão mais, e a sua morada não mais o
reconhecerá.
10. Seus filhos terão que indenizar os pobres; suas próprias mãos
devolverão suas riquezas.
11. Seus membros ainda cheios de juventude se deitarão com ele no pó.
12. O mal era doce na sua boca, e ele o escondia debaixo da língua;
13. ele o saboreava sem o engolir, segurando-o no céu da boca.
14. Pois bem! Esse alimento apodrecerá no seu ventre e se transformará em
veneno de cobra.
15. Vomitará as riquezas que engoliu, porque Deus as arranca do ventre
dele.
16. Sugará veneno de serpente, e as presas da víbora o matarão.
17. Nunca mais verá as fontes de óleo, nem os rios de leite e mel.
18. Terá que devolver, sem usar, os frutos do seu trabalho, e não
desfrutará do que ganhou no comércio.
19. Porque explorou e desamparou os pobres, e roubou casas que não tinha
construído.
20. Porque não soube acalmar sua cobiça, não salvará nenhum de seus
tesouros.
21. Nada escapava de sua voracidade e, por isso, sua prosperidade não
durará.
22. Da abundância cairá na miséria, e os golpes da desgraça cairão sobre
ele.
23. Para lhe encher o ventre, Deus lhe enviará o incêndio de sua ira, e
sobre ele fará chover suas flechas.
24. Caso escape das armas de ferro, uma flecha de bronze o atravessará;

25. a ponta da flecha sai brilhando de suas costas, depois de ter
atravessado o fígado, enchendo-o de pavor.
26. Todas as trevas serão reservadas para ele, e um fogo não aceso por
homens o devorará, consumindo tudo o que resta de sua tenda.
27. O céu revelará a injustiça dele e contra ele a terra se erguerá.
28. Um dilúvio arrastará sua casa, como as cataratas no dia da ira de
Deus.
29. Essa é a parte que Deus reserva para o injusto, essa é a herança que
Deus lhe prepara”.

[Jó 21]RESPOSTA DE JÓ

Jó 21

O SOFREDOR QUER SER OUVIDO
1. Então Jó respondeu:
2. “Escutem com atenção as minhas palavras. Dêem pelo menos esse conforto
para mim.
3. Tenham paciência enquanto falo. E quando eu terminar, vocês poderão
zombar de mim.
4. Estou por acaso me queixando de algum homem? Estou perdendo a
paciência sem motivo?
5. Estejam atentos, e vocês ficarão espantados e colocarão a mão na boca.

6. Só de pensar nisso, fico perturbado, e o meu corpo fica cheio de
arrepios.

OS INJUSTOS VIVEM BEM
7. Por que os injustos continuam vivos, e envelhecem cada vez mais ricos?

8. Sua descendência está segura na companhia deles, e eles vêem os seus
filhos crescer.
9. Suas casas são tranqüilas e sem temor; o bastão de Deus não os atinge.

10. Seus touros reproduzem sem falhar, e suas vacas dão cria sem abortar.

11. Eles deixam suas crianças correr como cabritos, e seus pequenos
saltam alegremente.
12. Cantam ao som de cítaras e pandeiros, e se divertem ao som da flauta.

13. Suas vidas transcorrem docemente, e eles descem tranqüilos à
sepultura.

VIVEM BEM PORQUE REJEITAM A DEUS E SEU PROJETO
14. Eles diziam a Deus: ‘Passa longe de nós, pois não nos interessa
conhecer os teus caminhos.
15. Quem é o Todo-poderoso para que o sirvamos? O que é que ganhamos
rezando a ele?’
16. Pois bem! Eles têm na mão a felicidade, e os projetos do injusto
estão longe de Deus.
17. Quantas vezes a lâmpada dos injustos se apaga, ou a desgraça cai
sobre eles, ou a ira de Deus os castiga com sofrimentos?
18. Por acaso, eles se tornam como folha seca ao vento, ou como palha
levada pelo furacão?
19. Dizem que Deus castiga os filhos do injusto! Ora, faça que o injusto
mesmo pague e aprenda:
20. que veja com seus próprios olhos a desgraça, e beba a ira do
Todo-poderoso.
21. Pois, o que lhe importa a sua família depois de morto, quando o tempo
de sua vida tiver chegado ao fim?

OS INJUSTOS LEVAM VANTAGEM ATÉ NA MORTE
22. Pode-se por acaso ensinar a ciência a Deus? Deus governa no céu.
23. Uma pessoa chega à morte em pleno vigor, sempre tranqüila e próspera,

24. com as ancas cobertas de gordura e com a medula dos ossos cheia de
energia.
25. Outra pessoa morre cheia de amargura, sem nunca ter provado a
felicidade.
26. Ambas se deitam juntas no pó, cobertas de vermes.
27. Eu sei muito bem o que vocês estão pensando, e conheço os maus
pensamentos que vocês remoem contra mim.
28. Eu sei que vocês dizem: ‘Onde está a casa do poderoso, onde está a
moradia dos injustos?’
29. Por que vocês não fazem perguntas aos viajantes e não acreditam no
que eles dizem?
30. O perverso é poupado no dia da catástrofe, e no dia da ira consegue
escapar.
31. Quem vai reprovar a conduta dele? Quem vai pedir contas do que ele
fez?
32. Ele será solenemente acompanhado à sepultura, montarão guarda no seu
túmulo,
33. e a terra será leve para ele. Todos os homens o acompanham e uma
incontável multidão vai à frente dele.
34. E vocês me querem consolar com banalidades? As respostas de vocês são
pura tapeação”.

[Jó 22]3. TERCEIRO DEBATE

INTERVENÇÃO DE ELIFAZ

Jó 22

CASTIGO SUPÕE CULPA
1. Elifaz de Temã tomou a palavra e disse:
2. “Por acaso, pode o homem ser útil a Deus, uma vez que o sábio só pode
no máximo ajudar a si próprio?
3. O que importa ao Todo-poderoso se você é justo? O que ele ganha, se
você é íntegro?
4. Será que é por causa da fidelidade de você que ele o reprova, ou
convoca você para o julgamento?
5. Não será antes pela sua grande maldade e pelas suas incontáveis
culpas?
6. De fato, você penhorava os bens de seus irmãos e despojava os outros
até deixá-los nus.
7. Você não oferecia água ao sedento, e negava pão ao faminto.
8. Você entregava a terra aos poderosos, e aí se instalavam os
privilegiados.
9. Você despedia as viúvas de mãos vazias, e violava o direito dos
órfãos.
10. É por isso que você está preso nos laços e perturbado por terrores
fulminantes.
11. A escuridão não deixa você enxergar; e você está coberto pela
enchente das águas.

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OS INJUSTOS SÃO CASTIGADOS
12. Será que Deus não está no mais alto do céu? Veja bem como é alto o
arco do céu estrelado!
13. E você ainda diz: ‘O que sabe Deus? Será que ele é capaz de
distinguir através das nuvens escuras?
14. As nuvens são como véu e o impedem de ver, enquanto ele passeia pelo
firmamento do céu’.
15. Por acaso você quer seguir o antigo caminho batido por homens
perversos,
16. arrastados antes do tempo, quando a enchente de um rio desmoronou
seus alicerces?
17. Eles diziam a Deus: ‘Afasta-te de nós. O que pode o Todo-poderoso
fazer contra nós?’
18. Deus tinha enchido de bens a casa deles, e eles o excluíam de seus
projetos perversos.
19. Os justos agora vêem e se alegram, e os inocentes zombam deles:
20. ‘Acabaram as riquezas deles! O fogo devorou o que haviam ganhado!’

CONVERTA-SE, E VOCÊ SERÁ FELIZ
21. Vamos, reconcilie-se e faça as pazes com Deus. E você vai ser
novamente feliz.
22. Aceite a instrução da boca de Deus e guarde no coração as palavras
dele.
23. Se você voltar para o Todo-poderoso, ele o restabelecerá. Afaste a
injustiça de sua tenda,
24. jogue seu ouro ao pó, e o ouro de Ofir entre as pedras do rio.
25. Então o Todo-poderoso será o seu ouro, e também prata aos montes.
26. Então você se alegrará com o Todo-poderoso, e erguerá o rosto para
Deus.
27. Ele ouvirá as suas súplicas, e você cumprirá o que havia prometido.

28. Você fará um projeto, que se realizará, e a luz brilhará em seu
caminho.
29. Porque ele humilha os arrogantes e salva os que se humilham.
30. Ele liberta o homem inocente, e você será salvo pela pureza de suas
próprias mãos”.

[Jó 23]RESPOSTA DE JÓ

Jó 23

SE EU SOUBESSE COMO ENCONTRAR A DEUS!
1. Então Jó respondeu:
2. “Ainda hoje me queixo e me revolto, porque a mão de Deus agrava os
meus gemidos.
3. Oxalá eu soubesse como encontrá-lo, como chegar até o seu tribunal!

4. Diante dele eu apresentaria a minha causa, com a boca cheia de
argumentos.
5. Eu saberia finalmente com que palavras ele me replica, e compreenderia
o que ele me diz.
6. Será que ele usaria de violência comigo? Não importa. Ele ao menos
teria que me escutar.
7. Então eu discutiria lealmente com ele, e definitivamente ganharia a
minha causa.
8. Mas, se vou para o oriente, ele aí não está. Se vou para o ocidente,
não o distingo.
9. Eu o procuro ao norte, e não o descubro. Eu me volto para o sul, e não
o vejo.

DEUS FAZ TUDO O QUE QUER
10. Ele, porém, conhece o meu comportamento. Pode colocar-me à prova, e
eu sairei puro como ouro.
11. Meus pés seguiram suas pegadas, andei por seu caminho e não me
desviei.
12. Não me afastei de seus mandamentos, e guardei suas palavras no meu
peito.
13. Ele toma uma decisão e ninguém pode fazê-lo mudar. Ele faz tudo o que
quer.
14. Ele executará a minha sentença, e outras coisas que tem na mente.
15. Por isso, fico perturbado em sua presença, e sinto medo só de pensar,

16. porque Deus me intimidou, o Todo-poderoso me aterrorizou.
17. Oxalá eu desaparecesse nas trevas, e a escuridão cobrisse o meu
rosto.

[Jó 24]Jó 24

POR QUE DEUS NÃO ESCUTA OS OPRIMIDOS?
1. Por que o Todo-poderoso não marca tempos de julgamento, para que os
seus fiéis possam presenciar às suas intervenções?
2. Os injustos mudam as fronteiras, roubam rebanhos e os levam a pastar.

3. Apoderam-se do jumento que pertence ao órfão, e penhoram o boi que é
da viúva.
4. Empurram os indigentes para fora do caminho, e os pobres da terra têm
que se esconder.
5. Como asnos do deserto, saem para trabalhar: desde a madrugada vão em
busca de alimentos, e até a tarde procuram o pão para seus filhos.
6. Fazem colheita em campo alheio, e catam os restos na vinha do injusto.

7. Passam a noite nus, sem roupa para se protegerem do frio.
8. Ensopados com as chuvas das montanhas, sem abrigo, eles se apertam
entre as rochas.
9. Os injustos arrancam o órfão do peito materno, e penhoram a roupa do
pobre.
10. Estes andam nus por falta de roupa, e famintos carregam feixes.
11. Espremem azeite no moinho e, sedentos, pisam a uva nos tanques.
12. Na cidade os moribundos gemem, e os feridos pedem socorro. E Deus não
faz caso da súplica deles.
13. Outros são rebeldes à luz, não conhecem os caminhos de Deus, nem
freqüentam suas estradas.
14. De madrugada, o assassino se levanta para matar o pobre e o
indigente. Durante a noite, o ladrão ronda, cobrindo o rosto com uma máscara.

15. O olho do adúltero aguarda o anoitecer, pensando: ‘Ninguém me verá’.

16. Na escuridão, eles arrombam as casas, enquanto de dia se escondem
aqueles que não querem nada com a luz.
17. O amanhecer é escuro para eles, pois estão acostumados com o medo das
trevas”.

INTERVENÇÃO DE SOFAR

O DESAFIO DO PECADOR
18. “Os injustos fogem correndo da luz do dia. Sua propriedade na terra é
amaldiçoada, e ninguém mais passa por sua vinha.
19. Como o calor do verão suga a água da neve, também a morada dos mortos
suga o pecador.
20. O ventre materno se esquece dele, e os vermes o adoram. Sua memória
se acaba, e a injustiça é cortada como se corta uma árvore.
21. Isso porque ele maltratou a estéril sem filhos e não socorreu a
viúva.
22. Mas aquele que prende com força os tiranos, aparece e lhe tira a
certeza da vida.
23. Deus o deixava apoiar-se numa segurança falsa, porém os olhos de Deus
observavam os caminhos dele.
24. Exaltado por breve tempo, ele deixa de existir. Cai como a erva que
se colhe, e murcha como as espigas.
25. As coisas não são assim? Quem me poderá desmentir, ou reduzir a nada
os meus argumentos?”

[Jó 25]INTERVENÇÃO DE BALDAD

Jó 25

O HOMEM É UM VERME
1. Baldad de Suás tomou a palavra e disse:
2. “Deus tem poder terrível e mantém a paz no alto do céu.
3. Pode-se, por acaso, contar o número de suas tropas? Sobre quem não se
levanta a sua luz?
4. Pode o homem ter razão diante de Deus? Como pode ser puro quem nasceu
de mulher?
5. Se nem mesmo a lua é brilhante, nem as estrelas são puras, aos olhos
dele,
6. quanto menos o homem, esse verme; o ser humano, essa larva!”

[Jó 26]RESPOSTA DE JÓ

Jó 26

CONVERSA INÚTIL
1. Então Jó respondeu:
2. “Como você sabe sustentar o fraco e socorrer um braço sem força!
3. Como você sabe aconselhar o ignorante e dar mostras de profundo
conhecimento!
4. A quem você dirigiu a palavra? De onde vem a inspiração que sai de
você?”

INTERVENÇÃO DE BALDAD

A GRANDEZA DE DEUS
5. Os mortos estremecem debaixo do mar e seus habitantes.
6. A morada dos mortos está nua aos olhos dele, e o reino da morte está
sem véu.
7. Deus estendeu o céu sobre o vazio e suspendeu a terra sobre o nada.

8. Ele prende as águas nas nuvens, sem que estas se rasguem com o peso.

9. Ele encobre a face da lua cheia, estendendo sua nuvem sobre ela.
10. Traçou um círculo sobre a superfície do mar, onde a luz faz fronteira
com as trevas.
11. As colunas do céu se abalam, assustadas com a ameaça dele.
12. Com seu poder, ele acalmou o mar e, com sua destreza, domou Raab.
13. O seu sopro clareou os céus, e a sua mão transpassou a serpente
fugitiva.
14. Tudo isso não é mais do que a margem de suas obras! Delas, nós só
percebemos um eco frágil! Quem poderia compreender o estrondo do seu poder?”

[Jó 27]RESPOSTA DE JÓ

Jó 27

VOU ME AGARRAR À MINHA JUSTIÇA
1. Jó continuou a dizer:
2. “Pelo Deus vivo, que me nega justiça, pelo Todo-poderoso, que me enche
de amargura,
3. enquanto eu puder respirar e o sopro de Deus estiver nas minhas
narinas,
4. os meus lábios não dirão falsidades e a minha língua não pronunciará
mentiras.
5. Longe de mim dar razões a vocês! Vou me declarar inocente até o meu
último suspiro.
6. Vou me agarrar à minha justiça, e não vou ceder. Minha consciência não
reprova nenhum dos meus dias.
7. Que meu inimigo seja tratado como injusto, e o meu adversário como
malfeitor.
8. Vocês dizem: Que esperança pode ter o injusto, se Deus vai lhe tirar a
vida?
9. Será que Deus vai ouvir o grito dele, quando sobre ele cair a
desgraça?
10. Se ele se tivesse alegrado com o Todo-poderoso, será que poderia
invocar a Deus a qualquer momento?
11. Vou explicar para vocês o poder de Deus, e não lhes esconderei os
projetos do Todo-poderoso.
12. Se todos vocês já observaram, por que ainda se perdem em
banalidades?”

INTERVENÇÃO DE SOFAR

O DESTINO DO INJUSTO
13. “Esta é a sorte que Deus reserva ao injusto, a herança que os
opressores recebem do Todo-poderoso:
14. se tiverem muitos filhos, todos morrerão pela espada, e seus
descendentes não terão o que comer.
15. Os sobreviventes serão sepultados pela peste, e suas viúvas não
chorarão por eles.
16. O injusto acumula prata como terra e amontoa roupas como barro.
17. Pode amontoar! É o justo quem as vestirá, e a prata é o inocente quem
a herdará.
18. A casa por ele construída será como teia de aranha, como a choupana
de um guarda.
19. Ele se deita rico, mas é pela última vez, pois ao abrir os olhos não
terá mais nada.
20. De dia, os terrores o assaltam, e de noite, o furacão o arrebata.
21. O vento leste o arrasta para longe, arrancando-o de sua residência;

22. o vento o arrasta sem piedade, e ele tenta fugir do seu poder.
23. Todos aplaudem sua ruína, e por onde ele vai todos assobiam”.

[Jó 28]O MISTÉRIO INSONDÁVEL DA
SABEDORIA

Jó 28

O LIMITE DA TECNOLOGIA
1. A prata tem suas minas, e o ouro tem o lugar onde é refinado.
2. O ferro é extraído da terra, e ao fundir-se a pedra, dela sai o
bronze.
3. O homem põe limite às trevas, e explora até o extremo limite as grutas
mais sombrias.
4. Perfura poços em lugares inacessíveis, sem apoio para os pés,
balançando suspenso longe dos homens.
5. A terra que dá o pão, por baixo é devorada pelo fogo;
6. suas pedras são jazidas de safiras, e seus torrões contêm pepitas de
ouro.
7. O abutre não conhece esse caminho, e o olho do falcão não consegue
enxergá-lo;
8. as feras não o trilham, nem o leão o atravessa.
9. O homem estende a mão contra a rocha, e revira as montanhas pela raiz;

10. abre galerias na pedra, atento a tudo o que é precioso;
11. explora as nascentes dos rios, e traz à luz o que está escondido.
12. A sabedoria, porém, de onde é tirada? Onde está a jazida da
inteligência?
13. O homem não conhece o caminho para ela, pois ela não se encontra na
terra dos vivos.

COMO COMPRAR A SABEDORIA?
14. O abismo diz: “Ela não está em mim”. E o mar responde: “Ela não está
comigo”.
15. Ela não pode ser comprada com o ouro mais fino, nem adquirida a peso
de prata;
16. não pode ser paga com ouro de Ofir, nem com ônix precioso ou safira.

17. O ouro e o cristal não se igualam a ela, que não pode ser paga com
vasos de ouro fino.
18. Os corais e as pérolas, então, nem se fala; é melhor pescar a
sabedoria do que as pérolas.
19. O topázio de Cuch não se iguala a ela, nem pode ser comprada com o
ouro mais puro.
20. De onde vem a sabedoria? Onde está a jazida da inteligência?
21. Ela está oculta aos olhos dos seres vivos, e escondida para as aves
do céu.
22. O abismo e a morte confessam: “Sua fama chegou aos nossos ouvidos”.

SOMENTE DEUS TEM ACESSO À SABEDORIA
23. Só Deus conhece o caminho para a sabedoria, somente ele sabe onde ela
se encontra,
24. pois ele contempla os confins do universo e vê tudo o que existe
debaixo do céu.
25. Quando fixou um peso para o vento e definiu a medida das águas,
26. quando deu uma lei para a chuva e uma rota para o relâmpago e o
trovão,
27. então ele a observou e avaliou, e sondou e estabeleceu.
28. E disse ao homem: “A sabedoria consiste em temer ao Senhor, e a
inteligência está em afastar-se do mal”.

[Jó 29]JÓ APELA PARA DEUS

Jó 29

UMA VIDA DIGNA DE RECOMPENSA
1. Jó continuou a dizer:
2. “Quem me dera voltar aos tempos de outrora, aos dias em que Deus me
protegia,
3. quando a sua lâmpada brilhava sobre a minha cabeça, e com a sua luz eu
caminhava no meio das trevas!
4. Pudesse eu reviver os dias do meu outono, quando Deus era íntimo na
minha tenda,
5. quando o Todo-poderoso estava comigo, e os meus filhos me rodeavam!

6. Nesse tempo, eu banhava os pés no leite, e a rocha me dava rios de
azeite.
7. Quando eu me dirigia à porta da cidade, e me sentava na praça,
8. ao ver-me, os jovens se escondiam, os anciãos se levantavam e ficavam
de pé,
9. os chefes paravam de falar e tapavam a boca com a mão,
10. os políticos emudeciam, e a língua deles ficava colada ao céu da
boca.
11. Todos os que ouviam, me elogiavam, e com os olhos me aprovavam,
12. porque eu libertava o pobre que pedia socorro e o órfão indefeso.
13. Eu recebia a bênção do moribundo, e alegrava o coração da viúva.
14. Eu vestia a justiça como túnica, e o direito era o meu manto e o meu
turbante.
15. Eu era os olhos do cego e os pés do coxo.
16. Eu era o pai dos pobres, e me empenhava pela causa de um
desconhecido.
17. Eu quebrava o queixo do injusto e arrancava a presa dos seus dentes.

18. Eu imaginava então: ‘Morrerei dentro do meu ninho, e como a fênix
multiplicarei os meus dias.
19. As minhas raízes chegarão até a água, e o orvalho pousará nos meus
ramos.
20. A minha honra sempre se renovará, e o meu arco se reforçará em minha
mão’.
21. Todos me ouviam com atenção e, em silêncio, esperavam meus conselhos.

22. Depois que eu falava, ninguém me replicava. As minhas palavras
gotejavam sobre eles,
23. que esperavam por elas como chuvisco, e as bebiam como chuva da
primavera.
24. Se eu brincava, não acreditavam, e não perdiam nenhuma expressão do
meu rosto.
25. Sentado como chefe, eu lhes indicava o caminho, como rei entronizado
em meio à sua escolta. Eu os guiava, e eles se deixavam conduzir.

[Jó 30]Jó 30

JUSTIÇA PREMIADA COM MISÉRIA
1. Agora, porém, zombam de mim pessoas mais jovens que eu, cujos pais eu
não deixaria entre os cães do meu rebanho.
2. Para que me serviriam os braços deles, sem forças como estavam?
3. Consumidos pela fome e miséria, eles ruminavam as raízes do deserto,
em sombria e desolada solidão.
4. Colhiam ervas amargas entre os arbustos, alimentando-se com raízes de
plantas.
5. Expulsos da sociedade a gritos, como se fossem ladrões,
6. moravam em barrancos escarpados, em cavernas e grutas do rochedo,
7. rugindo entre as moitas, agachados debaixo dos espinheiros.
8. Gente vil, homens sem nome, expulsos do país!
9. Pois bem! Agora eu me tornei alvo de suas zombarias e tema de suas
piadas!
10. Eles me desprezam e se afastam, e até se atrevem a me cuspir no
rosto.
11. Deus soltou a corda do meu arco e humilhou-me e eles se desenfreiam
contra mim.
12. À minha direita, os canalhas se levantam, olham se estou tranqüilo e
me preparam o caminho da destruição.
13. Desfazem a minha trilha, e trabalham juntos para a minha ruína, e
ninguém os detém.
14. Irrompem por uma larga brecha em avalanche, como tempestade.
15. Os terrores caem sobre mim, a minha dignidade se dissipa como vento,
e a minha felicidade se desfaz como nuvem.

DEUS SE TRANSFORMOU EM ADVERSÁRIO
16. Agora quero desafogar-me. Os dias de tristeza me oprimem.
17. De noite, um mal penetra nos meus ossos, pois as chagas que me
corroem não me deixam dormir.
18. Deus me agarra com violência pela roupa e me segura pela gola da
túnica,
19. me atira no meio da lama, e eu fico misturado com o pó e a cinza.
20. Clamo para ti, e tu não me respondes. Eu insisto, e tu não te
importas comigo.
21. Tu te transformaste em meu carrasco, e me atacas com o teu braço
musculoso.
22. Tu me levantas e me fazes cavalgar o vento, sacudindo-me no furacão.

23. Eu sei muito bem que tu me conduzes para a morte, para o lugar onde
todos os seres vivos se encontram.

E TUDO SEM MOTIVO
24. Quem não estende os braços quando afunda? No desastre, quem não grita
por socorro?
25. Não chorei junto com o oprimido? Não tive compaixão do indigente?
26. Eu esperava a felicidade, mas veio a desgraça; eu esperava a luz, mas
veio a escuridão.
27. As minhas entranhas fervem e não se acalmam, dias de aflição me
assaltam.
28. Eu caminho no luto, longe do sol, e me levanto na assembléia para
pedir auxílio.
29. Tornei-me irmão dos chacais e companheiro dos avestruzes.
30. Minha pele escurece e cai, meus ossos queimam de febre.
31. Minha cítara acompanha o luto, e minha flauta acompanha o pranto.

[Jó 31]Jó 31

PROTESTO DE INTEGRIDADE PESSOAL
1. Eu tinha feito um pacto com os meus olhos: jamais fixar o olhar nas
jovens.
2. E, em troca, que sorte Deus me reserva lá do alto? Que herança o
Todo-poderoso me destina lá do céu?
3. Será que a desgraça não é para o criminoso, e o fracasso para o
malfeitor?
4. Por acaso Deus não vê os meus caminhos e não conta todos os meus
passos?
5. Por acaso caminhei junto com a mentira? Será que os meus pés correram
atrás da fraude?
6. Deus pode pesar-me na balança da justiça, e então reconhecerá a minha
integridade.
7. Se os meus passos se desviaram do caminho, se o meu coração seguiu o
capricho dos olhos, e se qualquer mancha se apegou às minhas mãos,
8. então que outro coma o que semeei e arranquem tudo o que plantei.
9. Se o meu coração se deixou seduzir por mulher e se espiei pela porta
do meu vizinho,
10. que minha mulher gire o moinho para um estranho e que outros se
deitem com ela.
11. Isso, de fato, seria um escândalo, um crime digno de castigo.
12. Seria um fogo que devora e consome, destruindo todos os meus bens.

PROTESTO DE INTEGRIDADE SOCIAL
13. Se violei o direito do meu empregado ou da minha empregada, quando
moviam processo contra mim,
14. o que farei, quando Deus se levantar? O que responderei, quando ele
me interrogar?
15. Quem me formou no ventre materno, não formou também a eles? Foi o
mesmo Deus que nos formou no seio materno.
16. Por acaso neguei o que o fraco desejava, ou deixei a viúva
consumir-se em pranto?
17. Comi sozinho o meu pedaço de pão, sem reparti-lo com o órfão?
18. Desde a minha infância ele me criou como pai, e desde o seio materno
me guiou.
19. Por acaso vi um miserável sem roupa e algum indigente sem cobertor,

20. sem que suas costas me agradecessem, aquecidas com a lã das minhas
ovelhas?
21. Se levantei a mão contra o órfão, quando eu tinha influência no
tribunal,
22. que o meu ombro se desprenda do corpo e o meu braço se quebre no
cotovelo.
23. Porque o terror de Deus cairia sobre mim, e eu não agüentaria diante
da majestade dele.

PROTESTO DE INTEGRIDADE RELIGIOSA
24. Por acaso coloquei a minha confiança no ouro, ou a minha segurança no
metal precioso?
25. Por acaso me alegrei com as minhas grandes riquezas ou com a fortuna
acumulada por minhas mãos?
26. Por acaso vendo o sol resplandecente e a lua clara caminhar,
27. meu coração se deixou secretamente seduzir e lhes enviei um beijo com
a mão?
28. Isso seria um crime digno de castigo, pois eu teria renegado o Deus
do alto.
29. Por acaso me alegrei com a desgraça do meu inimigo e exultei com a
sua infelicidade?
30. Ou permiti que a minha boca pecasse, desejando com maldições a morte
para ele?
31. As pessoas da minha tenda disseram: ‘Quem não se fartou na mesa
dele?’
32. O imigrante nunca teve que dormir na rua, porque eu abria minhas
portas ao viajante.
33. Não ocultei o meu delito como fazem outros homens, nem escondi no
peito a minha culpa,
34. por temor dos comentários da multidão ou por temer o desprezo dos
parentes, a ponto de me manter calado e fechado dentro de casa.

DESAFIO: QUE DEUS ME RESPONDA!
35. Oxalá houvesse alguém para me escutar! Esta é a minha última palavra.
Que o Todo-poderoso me responda. Que o meu adversário escreva a acusação.
36. Eu a levarei sobre os meus ombros e a usarei como se fosse coroa.
37. Eu lhe prestaria contas de todos os meus passos e me apresentaria a
ele como um príncipe.
38. Se a minha terra gritou contra mim e os seus sulcos choraram com ela;

39. se eu comi o seu produto sem ter pago por ele, reduzindo à fome
aqueles que a cultivaram,
40. que nasçam espinhos ao invés de trigo e urtigas ao invés de cevada”.
Fim do protesto de Jó.

[Jó 32]III. DEUS EDUCA ATRAVÉS DO
SOFRIMENTO

INTERVENÇÃO DE ELIÚ

1. DEUS FALA ATRAVÉS DO SOFRIMENTO

Jó 32

É PRECISO DAR UMA RESPOSTA NOVA
1. Os três homens não disseram mais nada a Jó, porque ele se considerava
inocente.
2. Todavia, Eliú, filho de Baraquel, natural de Buz, da família de Ram,
ficou indignado contra Jó, porque este pretendia ter razão contra Deus.
3. Também se indignou contra os três amigos, porque não acharam resposta
e deixaram Deus em situação de culpado.
4. Eliú tinha ficado esperando, enquanto eles falavam com Jó, porque eram
mais velhos.
5. Vendo, porém, que nenhum dos três tinha mais respostas, ficou
indignado.
6. Então Eliú, filho de Baraquel, natural de Buz, começou a falar: “Eu
sou jovem, e vocês são anciãos. Por isso, eu estava intimidado e não me atrevia
a expor a vocês o meu conhecimento.
7. Eu fiquei pensando: ‘Que falem os anos, e a idade madura ensine a
sabedoria’.
8. Mas quem dá inteligência é um espírito no homem, o sopro do
Todo-poderoso.
9. Não é a idade avançada que dá sabedoria, nem é a velhice que produz o
discernimento do que é justo.
10. Por isso, peço que vocês me escutem, e eu também vou mostrar o que
sei.
11. Enquanto vocês falavam, eu esperei, e enquanto conversavam prestei
atenção nos argumentos de vocês.
12. Contudo, por mais que eu prestasse atenção, percebi que nenhum de
vocês conseguiu refutar Jó e responder aos argumentos dele.
13. Não digam que encontraram uma sabedoria que, além de Deus, ninguém
pode refutar.
14. Jó ainda não discutiu comigo, e eu não vou responder a ele com os
argumentos de vocês.
15. Aí estão eles, desconcertados, e nada respondem porque lhes faltam
argumentos.
16. Será que devo ficar esperando, já que eles não falam mais e não sabem
o que responder?
17. Pois bem! Quero tomar parte na discussão. Também eu vou mostrar o que
sei,
18. porque tenho muitas coisas a dizer, e elas me pressionam por dentro.

19. Minhas entranhas estão como barris novos que o vinho arrebenta ao
fermentar.
20. Vou falar e me desafogar, abrindo os lábios para responder.
21. Não vou tomar partido, nem bajular ninguém,
22. porque não sei bajular e porque o meu Criador me eliminaria.

[Jó 33]Jó 33

DEUS É MAIOR DO QUE O HOMEM
1. E agora, Jó, ouça as minhas palavras, preste atenção ao que vou dizer.

2. Vou abrir a minha boca, e a minha língua formará palavras com o céu da
boca.
3. Falo de coração sincero, e os meus lábios falarão claramente.
4. Foi o sopro de Deus que me criou, o alento do Todo-poderoso me deu
vida.
5. Se você puder, responda-me; prepare-se, e argumente contra mim.
6. Veja! Diante de Deus, eu sou igual a você: também eu fui tirado do
barro.
7. Não tenha medo de mim, pois a minha autoridade não o inibirá.
8. Você disse e repetiu aos meus ouvidos, e ainda escuto o som de suas
palavras:
9. ‘Eu sou puro, e não tenho culpa! Sou inocente e não cometi nenhum
pecado!
10. Deus, porém, inventa pretextos contra mim e me trata como inimigo.

11. Ele coloca meus pés no cepo e vigia todos os meus passos’.
12. Nisso eu digo que você não tem razão, pois Deus é maior do que o
homem.

DEUS FALA DE VÁRIOS MODOS
13. Como você se atreve a levantar um processo contra ele, dizendo que
ele não responde a nenhuma de suas acusações?
14. Deus fala, ora de um modo, ora de outro, mas as pessoas não prestam
atenção.
15. Ele fala em sonhos ou em visões noturnas, quando o torpor cai sobre o
homem adormecido no leito.
16. Então ele abre o ouvido do ser humano, segredando-lhe suas
advertências,
17. para afastar o homem do mal e evitar que se encha de orgulho.
18. Dessa forma, ele impede que o homem desça ao túmulo e cruze a
fronteira da morte.
19. Às vezes, Deus corrige o homem também com o sofrimento na cama,
quando o corpo treme sem parar,
20. e a pessoa recusa comer, com nojo até do seu alimento preferido;
21. quando a pessoa emagrece a olhos vistos e seus ossos começam a
aparecer.
22. Então ela se aproxima do túmulo, e sua vida é entregue à morada dos
mortos.
23. Contudo, se a pessoa encontra um anjo favorável, um intercessor,
entre outros mil, que lhe mostre o seu dever,
24. que tenha compaixão dele e diga a Deus: ‘Livra-o de baixar à
sepultura, pois encontrei um resgate para ele’,
25. então o seu corpo de novo se tornará jovem, e ele voltará aos dias de
sua mocidade.
26. Então suplicará a Deus, que o atenderá. Deus lhe mostrará alegremente
a sua face, fazendo com que o homem se torne justo.
27. Esse homem contará então diante dos outros, dizendo: ‘Eu tinha pecado
e violado o direito. Deus, porém, não me castigou como eu merecia.
28. Livrou-me de cair na sepultura, e agora a minha vida pode contemplar
a luz’.
29. Veja! Deus faz tudo isso duas e até três vezes em favor do homem,
30. a fim de tirá-lo vivo do túmulo e iluminá-lo com a luz da vida.
31. Preste atenção, Jó, escute-me, fique em silêncio enquanto eu falo.

32. Se você tem algo a dizer, me responda. Pode falar, estou disposto a
dar-lhe razão.
33. Se você não tem nada para falar, então escute-me, cale-se, e eu lhe
ensinarei a sabedoria”.

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[Jó 34]2. DEUS É JUSTO

Jó 34

1. Eliú continuou dizendo:
2. “Sábios, escutem as minhas palavras, e vocês, doutores, prestem
atenção.
3. Assim como o ouvido distingue as palavras e o paladar saboreia os
alimentos,
4. também nós podemos discernir o que é justo e reconhecer o que é bom.

5. Jó afirmou: ‘Sou inocente, mas Deus se nega a fazer-me justiça.
6. Embora esteja no meu direito, passo por mentiroso e, embora não tenha
pecado, uma flecha me feriu mortalmente’.
7. Quem é grande como Jó? Ele bebe sarcasmo como água,
8. junta-se aos malfeitores e anda na companhia dos injustos.
9. Ele afirma: ‘O homem não ganha nada em satisfazer a Deus’.
10. Escutem-me, homens sensatos. Longe de Deus praticar o mal, longe do
Todo-poderoso praticar a injustiça!
11. Deus paga ao homem conforme as suas obras e retribui a cada um
conforme a sua conduta.
12. Deus, na verdade, não age de modo injusto. O Todo-poderoso nunca
viola o direito.
13. Quem confiou a ele o governo da terra? Quem lhe entregou o mundo
inteiro?
14. Se ele pensasse apenas em si mesmo e retirasse o seu espírito e o seu
sopro,
15. todas as criaturas morreriam no mesmo instante, e o homem voltaria ao
pó.
16. Se você é inteligente, escute-me, preste atenção ao que vou falar.

17. Quem é inimigo do direito conseguiria governar? Você se atreve a
condenar o supremo Justo?
18. Ele é capaz de dizer a um rei: ‘Você é um homem vil’. E a um
príncipe: ‘Você é um homem injusto’.
19. Deus não é parcial a favor dos poderosos, nem favorece o rico contra
o pobre, porque todos são obras de suas mãos.
20. Eles morrem de repente no meio da noite, os grandes perecem e
desaparecem, e o poderoso é derrubado sem esforço humano.
21. Porque os olhos de Deus vêem a conduta do homem e vigiam todos os
seus passos.
22. Não há trevas nem sombras onde os malfeitores possam esconder-se.
23. Não cabe ao homem marcar prazo para comparecer perante o tribunal de
Deus.
24. Ele aniquila os poderosos sem muitos inquéritos e, no lugar deles,
nomeia outros.
25. Deus conhece a fundo as ações deles. Ele os derruba numa noite, e são
destruídos.
26. Ele os açoita como criminosos, e os prende em público,
27. porque se afastaram dele, e não seguiram os seus caminhos,
28. fazendo com que o clamor dos fracos chegasse até Deus, e ele ouvisse
o clamor dos pobres.
29. Se Deus permanece quieto, quem poderá condená-lo? Se ele esconde o
rosto, quem poderá vê-lo? Todavia, ele cuida dos povos e das pessoas,
30. para que não reine o perverso nem alguém que engane o povo.
31. Diga apenas isto a Deus: ‘Eu me enganei, não farei mais o mal.
32. Ensina-me aquilo que eu não vejo. Se pratiquei o mal, não voltarei a
fazê-lo’.
33. Será que ele deveria retribuir-lhe segundo as idéias que você tem, já
que você rejeita o julgamento dele? Quem deve escolher é você, e não eu. Vamos,
diga o que você sabe.
34. Os homens sensatos e os sábios que me escutam confessarão:
35. ‘Jó está falando sem saber. Suas palavras não têm sentido’.
36. Quero que Jó seja examinado até o fim por suas respostas, dignas de
um descrente,
37. porque ao pecado ele ajunta a revolta. Ele semeia a dúvida entre nós
e multiplica seus protestos contra Deus”.

[Jó 35]3. DEUS NÃO ATENDE OS
ORGULHOSOS

Jó 35

1. Eliú continuou dizendo:
2. “Será que você pretende ter razão, quando diz: ‘Sou mais justo do que
Deus’?
3. Ou quando diz: ‘De que me serviu, e o que foi que eu ganhei em não
pecar?’
4. Vou responder a você e também a seus amigos.
5. Olhe atentamente para o céu e observe as nuvens que estão bem acima de
você.
6. Se você pecar, que mal estará fazendo a Deus? Se você amontoa crimes,
que danos está causando para ele?
7. E se você é justo, o que é que está dando a ele? O que é que ele
recebe de sua mão?
8. Sua maldade só pode afetar outro homem igual a você. Sua justiça só
atinge outro ser humano como você.
9. As pessoas gemem sob o peso da opressão, e pedem socorro contra os
poderosos.
10. Mas ninguém diz: ‘Onde está o nosso Deus criador, que restaura as
nossas forças durante a noite,
11. que nos instrui mais do que aos animais da terra e nos torna mais
sábios do que as aves do céu?’
12. Alguns clamam, porém Deus não responde ao orgulho dos injustos.
13. Não, Deus não ouve a falsidade, e o Todo-poderoso não presta atenção
nisso.
14. E você ainda se atreve a dizer que não o vê, que sua causa foi
submetida a ele, que você está esperando,
15. que a ira dele não intervém e que ele não cuida de nada.
16. Ora, Jó está abrindo a boca inutilmente e multiplicando palavras sem
sentido”.

[Jó 36]4. JUSTIÇA E GRANDEZA DE DEUS

Jó 36

DEUS EDUCA PARA A JUSTIÇA
1. Eliú continuou dizendo:
2. “Tenha um pouco de paciência, e eu ensinarei a você, porque ainda
existem outros argumentos para a defesa de Deus.
3. Irei longe para buscar a minha ciência, a fim de dar razão ao meu
Criador.
4. Meus argumentos não são falsos; você tem diante de si um sábio
consumado.
5. Veja! Deus é poderoso e não despreza o coração sincero.
6. Ele não deixa o ímpio viver; e faz justiça aos pobres.
7. Não afasta seus olhos dos justos. Ao contrário, ele os faz sentar em
tronos reais e os exalta para sempre.
8. Quando os prende em correntes e amarra com os laços da aflição,
9. é porque ele só quer denunciar suas ações e seus pecados causados pelo
orgulho.
10. E assim, Deus abre os ouvidos deles para a correção e os aconselha a
se converterem da injustiça.
11. Se eles derem atenção e se submeterem, terminarão seus dias na
prosperidade e seus anos no bem-estar.
12. Se não obedecerem, atravessarão a fronteira da morte e morrerão sem
perceber.
13. Os injustos, quando Deus os aflige, acumulam rancor em lugar de pedir
auxílio.
14. Eles perdem a vida em plena juventude e morrem com a idade das
prostitutas.
15. Deus, porém, salva o pobre através da aflição e lhe abre o ouvido por
meio do sofrimento.
16. Ele quer arrancar também você da angústia e levá-lo a um lugar
espaçoso e aberto, para servir a você com mesa farta.
17. Você, porém, não faz justiça contra o injusto, nem defende o direito
do órfão.
18. Não se deixe seduzir por um presente, nem se perverter com rico
suborno.
19. Por acaso, no perigo, suas riquezas e posses valerão alguma coisa
diante de Deus?
20. Não esmague pessoas estranhas, para colocar seus parentes no lugar
delas.
21. Cuide em não se voltar para a injustiça, porque é por causa dela que
você foi provado através da aflição.
22. Veja como Deus é sublime em seu poder! Que mestre pode comparar-se a
ele?
23. Quem é que ensina o caminho para ele, ou pode acusá-lo de injustiça?

24. Lembre-se de celebrar as obras dele, que a humanidade cantou.
25. Todos os homens as contemplam, todos os mortais as admiram de longe.

O SENHOR DO OUTONO
26. A grandeza de Deus supera todo conhecimento, e o número de seus anos
é incalculável.
27. Ele reúne as gotas d’água, e de suas fontes destila a chuva.
28. As nuvens se derramam em chuvisco, e a chuva cai abundante sobre o
solo.
29. Quem pode calcular a extensão das nuvens e a altura de sua tenda
celeste?
30. Ele espalha diante de si uma neblina, que cobre o topo das montanhas.

31. Com a chuva, alimenta os povos, dando-lhes comida abundante.
32. Enche as mãos com raios e atira-os no alvo certo.
33. O trovão anuncia a chegada dele, e a sua ira se acende contra a
injustiça.

[Jó 37]Jó 37

1. Ao ver tudo isso, o meu coração treme e salta fora do peito.
2. Atenção! Ouçam o trovão de sua voz e o estrondo que sai de sua boca.

3. Seu relâmpago brilha do céu, atingindo a extremidade da terra.
4. Depois dele, sua voz estronda, ribombando com fragor majestoso. Nada
detém os seus raios, depois que se ouve o seu trovão.
5. Deus troveja com voz prodigiosa e realiza maravilhas que não
compreendemos.

O SENHOR DO INVERNO
6. Deus ordena à neve: ‘Caia sobre a terra’. E à chuva torrencial: ‘Desça
com violência’.
7. Ele interrompe a atividade dos homens, para que todos reconheçam a sua
obra.
8. As feras entram nos seus esconderijos e permanecem nas suas tocas.
9. O furacão avança do sul, e do norte se aproxima o frio.
10. Ao sopro de Deus se forma o gelo, e a superfície das águas se
congela.
11. Ele enche as nuvens de umidade e espalha as nuvens de tempestade.
12. Estas, guiadas por ele, giram e circulam, para cumprir todas as suas
ordens no mundo inteiro.
13. Ele as envia aos povos da terra para castigá-los ou para
beneficiá-los.

O SENHOR DO VERÃO
14. Ouça bem, Jó. Pare, e considere as maravilhas de Deus!
15. Você sabe como Deus dirige as nuvens, fazendo uma nuvem brilhar de
relâmpagos?
16. Você sabe como ele equilibra as nuvens, maravilhas de sabedoria
consumada?
17. Você sabe por que suas roupas ficam quentes, quando a terra desfalece
por causa do vento sul?
18. Por acaso você já estendeu com ele o firmamento, sólido como espelho
de metal fundido?
19. Fale-me o que devemos dizer para Deus, pois não podemos argumentar às
escuras.
20. Seria preciso avisar a ele que pretendo falar? Ficaria ele informado
com o que um homem diz?
21. De repente não se vê mais a luz, escurecida pelas nuvens. No entanto,
o vento sopra e as espalha.
22. Do norte chega um clarão dourado, Deus se envolve de majestade
terrível.
23. Não podemos alcançar o Todo-poderoso. Ele é sublime em poder, rico de
justiça, e não oprime ninguém.
24. Por isso, todos os homens o temem, e ele não leva em conta aqueles
que se consideram sábios”.

[Jó 38]IV. O DESAFIO DE DEUS

1. DEUS É O SENHOR DA VIDA

Jó 38

JAVÉ FALA POR DENTRO DO SOFRIMENTO HUMANO
1. Então Javé, do meio da tempestade, respondeu a Jó e disse:
2. “Quem é esse que escurece o meu projeto com palavras sem sentido?
3. Se você é homem, esteja pronto: vou interrogá-lo, e você me
responderá.

O SENHOR DA NATUREZA
4. Onde você estava quando eu colocava os fundamentos da terra? Diga-me,
se é que você tem tanta inteligência!
5. Você sabe quem fixou as dimensões da terra? Quem a mediu com a trena?

6. Onde se encaixam suas bases, ou quem foi que assentou sua pedra
angular,
7. enquanto os astros da manhã aclamavam e todos os filhos de Deus
aplaudiam?
8. Quem fechou o mar com uma porta, quando ele irrompeu, jorrando do seio
materno?
9. Quando eu coloquei as nuvens como roupas dele e névoas espessas como
cueiros?
10. Quando lhe coloquei limites com portas e trancas,
11. e lhe disse: ‘Você vai chegar até aqui, e não passará. Aqui se
quebrará a soberba de suas ondas’?
12. Alguma vez em sua vida você deu ordens para o amanhecer, ou marcou um
lugar para a aurora,
13. a fim de que ela agarre as bordas da terra, e dela sacuda os
injustos?
14. Por acaso você deu ordens à terra para ela se transformar como argila
debaixo do sinete e se tingir como vestido,
15. negando luz para os injustos e quebrando o braço que ameaça golpear?

16. Você já chegou até as fontes do mar, ou passeou pelas profundezas do
oceano?
17. Já mostraram a você as portas da morte, ou por acaso você já viu os
portais das sombras?
18. Você examinou a extensão da terra? Se você sabe tudo isso, me diga.

19. Por onde se vai até a casa da luz, e onde é que vivem as trevas,
20. para que você as leve ao território delas e lhes ensine o caminho
para casa?
21. Certamente você sabe disso tudo, pois já então havia nascido e já
viveu muitíssimos anos.
22. Você entrou nos reservatórios da neve e observou os celeiros do
granizo,
23. que eu reservo para o tempo da calamidade, para os dias de guerra e
batalha?
24. Por onde se espalha o calor, e se difunde sobre a terra o vento
leste?
25. Quem abriu um canal para o aguaceiro, e o caminho para o relâmpago e
o trovão,
26. para chover em terras despovoadas e no deserto, onde os homens não
habitam,
27. para que as regiões desoladas se saciem, e façam germinar e brotar a
erva?
28. Por acaso a chuva tem pai? Quem gera as gotas do orvalho?
29. De que seio vem o gelo, e quem dá à luz a geada do céu?
30. As águas ficam como pedra, e a superfície do lago se congela.
31. Você pode amarrar o laço das Plêiades, ou desatar as ligações de
Órion?
32. Você pode fazer que apareçam as constelações do zodíaco na sua
estação própria, ou guiar a Ursa com os seus filhos?
33. Você conhece as leis do céu, ou determina as funções delas sobre a
terra?
34. Você é capaz de levantar a voz até as nuvens, para que um aguaceiro
cubra você?
35. Por acaso você atira os raios e eles partem, dizendo a você: ‘Aqui
estamos’?
36. Quem deu sabedoria ao íbis e inteligência ao galo?
37. Quem está em grau de contar exatamente as nuvens, e quem entorna os
cântaros do céu,
38. quando o pó do chão se transforma em barro e os terrões se amontoam?

O SENHOR DOS ANIMAIS
39. É você, por acaso, que caça a presa para a leoa ou sacia a fome dos
leõezinhos,
40. quando eles se recolhem nas tocas ou ficam de emboscada nas moitas?

41. É você que dá alimento ao corvo, quando os filhotes dele gritam a
Deus e se agitam por falta de comida?

[Jó 39]Jó 39

1. Você sabe quando é que as camurças dão cria? Já assistiu o parto das
corças?
2. Você conta os meses de gravidez delas ou conhece o momento do parto?

3. Elas se agacham, dão cria e se livram das dores.
4. Os filhotes crescem e ficam fortes, saem para o campo aberto e não
voltam mais.
5. Quem dá liberdade ao asno selvagem e solta as rédeas do burro xucro,

6. ao qual dei o deserto como habitação e a planície salgada como
moradia?
7. Ele se ri do barulho da cidade e não dá atenção aos xingos de quem o
arreia.
8. Ele explora as montanhas em busca de pasto, à procura de lugares
verdes.
9. Será que o búfalo aceita servir a você e passar a noite em seu
estábulo?
10. Você pode colocar nele uma canga, para que ele are a terra atrás de
você?
11. Ele é forte. Mas será que você pode confiar nele para fazer o seu
trabalho?
12. Você pode contar com ele, para que volte e venha moer o grão no
terreiro?
13. O avestruz bate asas alegremente, como se tivesse penas e plumas de
cegonha.
14. Ele deixa seus ovos no chão, para chocá-los na areia,
15. sem pensar que algum pé poderá quebrá-los ou serem pisados por alguma
fera.
16. Ele é cruel com os filhotes, como se não fossem seus, e não se
importa com a inútil fadiga deles,
17. porque Deus o privou de sabedoria e não lhe concedeu inteligência.

18. Contudo, quando se levanta batendo os flancos, ele se ri de cavalos e
cavaleiros.
19. Você pode dar força ao cavalo e vestir de crina o pescoço dele?
20. Você o ensina a saltar como um gafanhoto, relinchando com majestade e
terror?
21. Cheio de força, ele pateia o chão e se lança ao encontro das armas.

22. Ele ri do medo, não se assusta e diante da espada não volta para
trás.
23. Sobre ele ressoam o barulho do escudo, a lança faiscante e o dardo.

24. Com ímpeto e estrondo, ele devora a distância e não pára, mesmo que
soe o clarim.
25. Ao toque da trombeta, ele relincha; fareja de longe a batalha, as
ordens de comando e os gritos de guerra.
26. Será pela sabedoria que você tem, que o falcão levanta vôo,
estendendo as asas para o sul?
27. Por acaso é com sua ordem que a águia levanta vôo e constrói seu
ninho nas alturas?
28. Ela mora nos rochedos, e aí pernoita numa fortaleza de rocha
inatingível.
29. Do alto ela espia a sua presa; seus olhos a enxergam de longe.
30. Seus filhotes bebem o sangue, e onde há cadáveres ela aí está”.

[Jó 40]Jó 40

1. Javé continuou falando a Jó, e perguntou:
2. “O adversário vai querer discutir com o Todo-poderoso? Quem critica a
Deus irá responder?”

PRIMEIRA RESPOSTA DE JÓ A DEUS

SILÊNCIO DIANTE DO MISTÉRIO
3. Então Jó respondeu a Javé:
4. “Eu me sinto arrasado. O que posso replicar? Vou tapar a boca com a
mão.
5. Falei uma vez e não insistirei; falei duas vezes, e não vou
acrescentar mais nada”.

2. DEUS TRIUNFA SOBRE O MAL

O GRANDE DESAFIO: DEUS É DEUS, E O HOMEM NÃO É DEUS
6. Do meio da tempestade, Javé replicou a Jó:
7. “Se você é homem, esteja pronto: vou interrogá-lo, e você me
responderá.
8. Você se atreve a anular a minha justiça e condenar-me, para justificar
a si mesmo?
9. Você tem braço como o braço de Deus? Sua voz troveja como a voz de
Deus?
10. Então revista-se de majestade e grandeza, e cubra-se de esplendor e
glória!
11. Derrame o ardor de sua ira e, com um olhar só, rebaixe todos os
orgulhosos.
12. Humilhe com seu olhar o arrogante, e esmague os injustos onde quer
que se encontrem.
13. Enterre-os todos juntos no pó, e amarre-os todos juntos na prisão.

14. Então também eu louvarei a você, porque conseguiu a vitória com sua
própria mão direita.

DEUS DOMINA A FORÇA BRUTA
15. Veja o Beemot: fui eu que o criei, como criei você. Ele come grama
como faz o boi.
16. Veja a força de suas ancas, o vigor do seu ventre musculoso,
17. quando ergue a cauda como cedro, trançando os tendões de suas coxas.

18. Seus ossos são como tubos de bronze, e sua carcaça parece feita de
barras de ferro.
19. Ele é a obra-prima de Deus, e somente o seu Criador pode ameaçá-lo
com a espada.
20. Deus lhe proíbe a região das montanhas, onde as feras se divertem.

21. Ele se deita debaixo do lótus, e se esconde entre os juncos do
pântano.
22. O lótus o cobre de sombra, e os salgueiros da torrente o envolvem.

23. Ainda que o rio transborde, ele não se assusta. Ao contrário, fica
tranqüilo, mesmo que o Jordão faça espuma em sua boca.
24. Quem poderá agarrá-lo pela frente ou perfurar suas narinas com o
gancho?

DEUS DOMINA O MAL QUE AMEAÇA O HOMEM
25. Por acaso você é capaz de pescar o Leviatã com anzol e amarrar-lhe a
língua com uma corda?
26. Você é capaz de furar as narinas dele com junco e perfurar sua
mandíbula com gancho?
27. Será que ele viria até você com muitas súplicas ou lhe falaria com
ternura?
28. Será que faria uma aliança com você, para você fazer dele o seu
criado perpétuo?
29. Você brincará com ele como se fosse um pássaro, ou você o amarrará
para suas filhas?
30. Será que os pescadores o negociarão, ou os negociantes o dividirão
entre si?
31. Poderá você crivar a pele dele com dardos ou a cabeça com arpão de
pesca?
32. Experimente colocar a mão em cima dele: você se lembrará da luta, e
nunca mais repetirá isso!

[Jó 41]Jó 41

1. Veja! Diante dele, toda segurança é apenas ilusão, pois basta alguém
vê-lo para ficar com medo.
2. Ninguém é tão corajoso para provocá-lo. Quem poderia enfrentá-lo cara
a cara?
3. Quem jamais se atreveu a desafiá-lo, e saiu ileso? Ninguém debaixo de
todo o céu.
4. Não deixarei de descrever os membros dele, nem sua força incomparável.

5. Quem abriu sua couraça e penetrou por sua dupla armadura?
6. Quem abriu as duas portas de sua boca, rodeadas de dentes terríveis?

7. Suas costas são fileiras de escudos, ligados com lacre de pedra;
8. são tão unidos uns com os outros, que nem ar passa entre eles;
9. cada um é tão ligado com o outro, que ficam travados e não se podem
separar.
10. Seus espirros lançam faíscas, e seus olhos são como a cor rosa da
aurora.
11. De sua boca irrompem tochas acesas e saltam centelhas de fogo.
12. De suas narinas jorra fumaça, como de caldeira acesa e fervente.
13. Seu bafo queima como brasa, e sua boca lança chamas.
14. Em seu pescoço reside a força, e diante dele dança o terror.
15. Os músculos do seu corpo são compactos, são sólidos e imóveis.
16. Seu coração é duro como rocha e sólido como pedra de moinho.
17. Quando ele se ergue, os heróis tremem e fogem apavorados.
18. A espada que o atinge não penetra, nem a lança, nem o dardo, nem o
arpão.
19. Para ele o ferro é como palha, e o bronze como madeira podre.
20. A flecha não o afugenta, e as pedras da funda se transformam em palha
para ele.
21. A maça é para ele como estopa, e ele zomba dos dardos que assobiam.

22. Seu ventre, coberto de escamas pontudas, é uma grade de ferro que se
arrasta sobre o lodo.
23. Ele faz ferver o fundo do mar como caldeira, e a água fumegar como
vasilha quente cheia de ungüentos.
24. Atrás de si deixa uma esteira brilhante, e a água parece cabeleira
branca.
25. Na terra ninguém se iguala a ele, pois foi criado para não ter medo.

26. Ele se confronta com os seres mais altivos, e é o rei das feras
soberbas”.

[Jó 42]ÚLTIMA RESPOSTA DE JÓ A DEUS

Jó 42

A EXPERIÊNCIA DO DEUS VIVO
1. Então Jó respondeu a Javé:
2. “Eu reconheço que tudo podes e que nenhum dos teus projetos fica sem
realização.
3. Tu disseste: ‘Quem é esse que escurece os meus projetos com palavras
sem sentido?’ Pois bem! Eu falei, sem entender, de maravilhas que superam a
minha compreensão.
4. Tu disseste: ‘Escute-me, porque vou falar. Vou interrogá-lo, e você me
responderá’.
5. Eu te conhecia só de ouvir. Agora, porém, os meus olhos te vêem.
6. Por isso, eu me retrato e me arrependo, sobre o pó e a cinza”.

V. APÊNDICE

A INTERCESSÃO DO POBRE
7. Javé terminou de falar com Jó, e se dirigiu a Elifaz de Temã, dizendo:
“Estou irritado contra você e seus dois companheiros, porque vocês não falaram
corretamente de mim como falou o meu servo Jó.
8. Portanto, peguem sete bezerros e sete carneiros, e vão até o meu servo
Jó. Ofereçam os animais em holocausto, e o meu servo Jó intercederá por vocês.
Em atenção a ele, eu não os tratarei como a insensatez de vocês merece, porque
vocês não falaram corretamente de mim, como falou o meu servo Jó”.
9. Então, Elifaz de Temã, Baldad de Suás e Sofar de Naamat fizeram o que
Javé lhes tinha ordenado. E Javé atendeu às orações de Jó.

O RETORNO DA FELICIDADE
10. Quando Jó intercedeu por seus companheiros, Javé lhe mudou a sorte e
duplicou todas as posses.
11. Seus irmãos e irmãs e os antigos conhecidos foram visitá-lo.
Almoçaram em sua casa e o consolaram e confortaram pela desgraça que Javé lhe
tinha enviado. Cada um ofereceu a Jó uma soma de dinheiro e um anel de ouro.
12. E Javé abençoou a Jó, mais ainda do que antes. Ele possuía agora
catorze mil ovelhas, seis mil camelos, mil juntas de bois e mil jumentas.
13. Teve sete filhos e três filhas:
14. a primeira chamava-se Rola, a segunda Cássia e a terceira Azeviche.

15. Em toda a terra não havia mulheres mais belas do que as filhas de Jó.
E o seu pai repartiu a herança entre elas e os irmãos delas.
16. Depois disso, Jó viveu ainda cento e quarenta anos, e conheceu os
seus filhos, netos e bisnetos.
17. Depois Jó morreu, velho, em idade avançada.


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