Portuguese Bible – BÍBLIA ON-LINE – Antigo Testamento


Sabedoria 1



A JUSTIÇA É IMORTAL

1.
Amem a justiça, vocês que governam a terra. Pensem
corretamente no Senhor e o procurem de coração sincero.
2. Pois ele se deixa encontrar por aqueles que não o tentam, e se
manifesta para aqueles que não recusam acreditar nele.
3. Os pensamentos tortuosos separam de Deus, e o poder dele, posto à
prova, confunde os insensatos.
4. A sabedoria não entra na alma que pratica o mal, nem habita num corpo
que é escravo do pecado.
5. O espírito santo, que educa, foge da fraude, afasta-se dos pensamentos
insensatos, e é expulso quando sobrevém a injustiça.
6. A sabedoria é um espírito amigo dos homens, mas não deixa impune quem
blasfema com os lábios, porque Deus é testemunha de seus sentimentos, observa de
fato a sua consciência e ouve as palavras de sua boca.
7. O espírito do Senhor enche o universo, dá consistência a todas as
coisas e tem conhecimento de tudo o que se diz.
8. Por esse motivo, quem fala coisas injustas não escapará dele, e a
justiça vingadora não o poupará.
9. Haverá investigação sobre os projetos do injusto, e o rumor das
palavras dele chegará até o Senhor, e seus crimes ficarão comprovados.
10. Um ouvido atento tudo escuta: nem mesmo o sussurro das murmurações
lhe escapa.
11. Portanto, tomem cuidado com a murmuração inútil, e evitem a
maledicência. Mesmo secreta, a palavra não fica sem conseqüências, e a boca
mentirosa mata a alma.
12. Não procurem a morte, desviando a própria vida de vocês, nem
provoquem a ruína com as obras que vocês praticam,
13. pois Deus não fez a morte, nem se alegra com a perdição dos seres
vivos.
14. Ele criou tudo para a existência, e as criaturas do mundo são sadias:
nelas não há veneno de morte, nem o mundo dos mortos reina sobre a terra,
15. porque a justiça é imortal.


I. A SABEDORIA E O SENTIDO DA VIDA

16.
Com gestos e palavras, os injustos invocam a morte
para si mesmos. Eles pensam que a morte é amiga e a desejam ardentemente,
chegando a fazer aliança com ela. São realmente dignos de pertencer à morte.


Sabedoria 2

1. Raciocinando de forma errada, eles comentam entre si: “Nossa vida é
curta e triste: quando chega o fim, não há remédio, e não se conhece ninguém que
tenha voltado do mundo dos mortos.
2. Nascemos por acaso, e depois seremos como se nunca tivéssemos
existido. Nossa respiração é fumaça, e o pensamento é uma faísca produzida pelo
pulsar do coração.
3. Quando a faísca se apaga, o corpo se transforma em cinza e o espírito
se espalha como ar sem consistência.
4. Com o tempo, o nosso nome fica esquecido, e ninguém mais se lembra do
que fizemos. Nossa vida passa como rastro de nuvem, e se dissipa como neblina
expulsa pelos raios do sol e dissolvida pelo seu calor.
5. Nossa vida é uma sombra que passa, e depois de morrer não voltaremos.
Colocado o lacre, ninguém mais poderá retornar.
6. Sendo assim, vamos gozar os bens presentes e usar as criaturas com
ardor juvenil.
7. Vamos embriagar-nos com os melhores vinhos e perfumes, e não deixar
que a flor da primavera escape de nós.
8. Vamos coroar-nos com botões de rosa, antes que murchem.
9. Que nenhum de nós fique fora de nossas orgias. Vamos deixar por toda
parte sinais de nossa alegria, porque essa é a nossa sorte e o nosso destino.
10. Vamos oprimir o pobre inocente e não vamos poupar as viúvas, nem
respeitar os cabelos brancos do ancião.
11. A nossa força será regra da justiça, porque o fraco é claramente
coisa inútil.
12. Vamos armar ciladas para o justo, porque ele nos incomoda e se opõe
às nossas ações. O justo reprova as transgressões que cometemos contra a Lei, e
nos acusa de faltas contra a educação que recebemos.
13. Ele declara ter o conhecimento de Deus, e se diz filho do Senhor.
14. Ele se tornou uma condenação para os nossos pensamentos, e somente
vê-lo já é coisa insuportável.
15. Sua vida não se parece com a dos outros, e seus caminhos são todos
diferentes.
16. Ele nos considera moeda falsa e se afasta de nossos caminhos para não
se contaminar. Proclama feliz o destino dos justos e se gaba de ter Deus como
pai.
17. Vejamos se é verdadeiro o que ele diz, e comprovemos o que lhe vai
acontecer no fim.
18. Se o justo é filho de Deus, Deus cuidará dele e o livrará da mão dos
seus adversários.
19. Vamos prová-lo com insultos e torturas, para verificar a sua
serenidade e examinar a sua resistência.
20. Vamos condená-lo a sofrer morte vergonhosa, porque ele mesmo diz que
não lhe faltará socorro”.
21. Eles pensam assim, porém estão enganados, porque a maldade deles os
deixa cegos.
22. Não conhecem os segredos de Deus, não esperam o pagamento pela
santidade, nem acreditam na recompensa das vidas puras.
23. Sim, Deus criou o homem para ser incorruptível e o fez à imagem da
sua própria natureza.
24. Mas, pela inveja do diabo, entrou no mundo a morte, que é
experimentada por aqueles que pertencem a ele.


Sabedoria 3

O justo é
imortal

1.
A vida dos justos, ao contrário, está nas mãos de
Deus, e nenhum tormento os atingirá.
2. Aos olhos dos insensatos, aqueles pareciam ter morrido, e o seu fim
foi considerado como desgraça.
3. Os insensatos pensavam que a partida dos justos do nosso meio era um
aniquilamento, mas agora estão na paz.
4. As pessoas pensavam que os justos estavam cumprindo uma pena, mas
esperavam a imortalidade.
5. Por uma breve pena receberão grandes benefícios, porque Deus os provou
e os encontrou dignos dele.
6. Deus examinou-os como ouro no crisol, e os aceitou como holocausto
perfeito.
7. No dia do julgamento, eles resplandecerão, correndo como fagulhas no
meio da palha.
8. Eles governarão as nações, submeterão os povos, e o Senhor reinará
para sempre sobre eles.
9. Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que lhe são fiéis
viverão junto dele no amor, pois a graça e a misericórdia estão reservadas para
os seus escolhidos.
10. Os injustos, porém, serão castigados por sua maneira de pensar,
porque desprezaram o justo e se afastaram do Senhor.
11. É infeliz quem despreza a sabedoria e a disciplina. Sua esperança é
vazia, suas fadigas não produzem fruto, e suas obras são inúteis.
12. Suas mulheres são insensatas, seus filhos depravados, e sua
descendência é maldita.

A lembrança
do justo
permanece

13.
Feliz a mulher estéril que permanece
irrepreensível e desconhece união pecaminosa, porque ela receberá seu fruto no
julgamento das almas.
14. Feliz também o eunuco, que não cometeu injustiça, nem pensou coisas
más contra o Senhor. Ele, por sua fidelidade, receberá uma graça especial e uma
recompensa invejável no templo do Senhor.
15. Pois o fruto das boas obras é glorioso e a raiz da sabedoria é
imperecível.
16. Os filhos dos adúlteros não chegarão à maturidade, e a descendência
de uma união ilegítima desaparecerá.
17. Mesmo que tenham vida longa, ninguém fará caso deles, e sua velhice
no fim será sem honra.
18. Se morrerem cedo, não terão esperança nenhuma, nem consolação no dia
do julgamento,
19. porque é terrível o fim de uma geração perversa.


Sabedoria 4

1. É melhor não ter filhos e possuir a virtude, porque a memória da
virtude é imortal, e tanto Deus como os homens a conhecem.
2. Quando está presente, todos a imitam. Se está ausente, todos a
desejam. E, por fim, ela triunfa na eternidade, coroada e vitoriosa, por ter
vencido com limpidez no campo de combate.
3. A descendência numerosa dos injustos não servirá para nada; nascida de
ramos bastardos, não lançará raízes profundas, nem terá base firme.
4. Mesmo que por algum tempo seus ramos estejam verdes, ela está mal
fixada no solo, será abalada pelo vento e arrancada pela violência do furacão.
5. Seus frágeis ramos serão quebrados, seu fruto será inútil e
intragável, e ela não servirá para nada.
6. De fato, os filhos nascidos de uniões ilegais testemunharão a
perversidade de seus pais, quando estes forem julgados.

Por
que o justo morre prematuramente?

7.
Ainda que morra prematuramente, o justo encontrará
repouso.
8. Velhice honrada não consiste em ter vida longa, nem é medida pelo
número de anos.
9. Os cabelos brancos do homem valem pela sua sabedoria, e a velhice pela
sua vida sem manchas.
10. O justo agradou a Deus, e Deus o amou. Como ele vivia entre os
pecadores, Deus o transferiu.
11. Foi arrebatado, para que a malícia não lhe pervertesse os
sentimentos, ou para que o engano não o seduzisse.
12. De fato, o fascínio do vício obscurece os verdadeiros valores, e a
força da paixão perverte a mente que não tem malícia.
13. Amadurecido em pouco tempo, o justo atingiu a plenitude de uma vida
longa.
14. A alma dele era agradável ao Senhor, e este se apressou em tirá-lo do
meio da maldade. Muita gente vê isso, mas não compreende nada; não reflete
15. que a graça e a misericórdia de Deus são para os seus escolhidos, e a
proteção dele é para os seus santos.
16. Quando morre, o justo condena os injustos que continuam a viver, e a
juventude que chegou rapidamente à perfeição condena a longa velhice do injusto.
17. Muita gente verá o fim do sábio, mas não compreenderá o que Deus
queria a respeito dele, nem por que o colocou em segurança.
18. Tais pessoas verão e mostrarão seu desprezo, mas o Senhor se rirá
delas.
19. Essas pessoas, porém, se tornarão para sempre cadáveres desonrados e
objetos de zombaria entre os mortos. De fato, Deus vai jogá-las de cabeça para
baixo, sem que possam dizer uma palavra sequer, e as arrancará de seus
alicerces. Ficarão completamente arruinadas, viverão na aflição, e a memória
delas desaparecerá.

O
julgamento

20.
Os injustos, quando forem prestar conta de seus
pecados, chegarão cheios de terror, e seus crimes os acusarão cara a cara.


Sabedoria 5

1. O justo, porém, ficará de pé, sem temor, diante dos que o oprimiram e
desprezaram seus sofrimentos.
2. Ao ver o justo, esses ficarão tomados de terrível pavor, espantados
diante da salvação inesperada.
3. Arrependidos, dirão entre si, entre soluços e gemidos de angústia:
4. “Esse é aquele de quem antes nós ríamos. Nós o tomávamos como objeto
de zombaria. Insensatos que fomos! Consideramos uma loucura a vida dele e a sua
morte para nós era uma vergonha!
5. Por que ele agora é considerado entre os filhos de Deus e participa da
herança dos santos?
6. Nós portanto nos desviamos do caminho da verdade. A luz da justiça não
brilhou para nós, nem o sol para nós se levantou.
7. Nós nos fartamos nos caminhos da injustiça e da perdição. Percorremos
desertos intransitáveis, e não conhecemos o caminho do Senhor.
8. De que adiantou o nosso orgulho? Que vantagem tiramos de nossa riqueza
arrogante?
9. Tudo passou como sombra e como notícia fugaz.
10. Passou como navio que corta as águas agitadas, sem que se possa
encontrar vestígios de sua passagem, nem o sulco de seu casco nas ondas.
11. Foi embora como pássaro que voa pelos ares, sem deixar qualquer sinal
de sua rota: o ar leve, ferido pelo toque das penas e dividido pelo ímpeto
vigoroso, é atravessado pelas asas em movimento, mas depois não fica sinal
nenhum de sua passagem.
12. Tudo passou como flecha disparada para o alvo: o ar cortado volta
imediatamente sobre si mesmo, e já não se sabe mais a trajetória dela.
13. O mesmo acontece conosco: mal nascemos e já desaparecemos, sem
mostrar nenhum sinal de virtude, porque nós nos consumimos em nossa maldade!”
14. Sim, a esperança do injusto é como palha arrebatada pelo vento, como
leve espuma que a tempestade levanta. Esperança que se desfaz como fumaça
espalhada pelo vento, e é fugaz como a lembrança do hóspede que fica um dia só.
15. Os justos, porém, vivem para sempre, recebem do Senhor a recompensa,
e o Altíssimo cuida deles.
16. Por isso, receberão das mãos do Senhor a gloriosa coroa real e o
diadema do esplendor, porque ele os protegerá com a mão direita e os cobrirá com
seu braço, como escudo.
17. Tomará seu próprio zelo como armadura e armará a criação para
castigar os inimigos.
18. Vestirá a couraça da justiça e colocará o capacete do julgamento que
não admite suborno.
19. Tomará como escudo a santidade invencível,
20. afiará a espada de sua ira implacável, e o universo combaterá a seu
lado contra os insensatos.
21. Os raios partirão das nuvens como flechas bem apontadas e voarão
sobre o alvo como de um arco bem retesado.
22. Sua funda lançará furiosa saraivada, a água do mar se enfurecerá
contra eles, e os rios sem piedade os afogarão.
23. O sopro do poder divino se levantará contra eles e os dispersará como
furacão. É assim que a injustiça devastará a terra toda, e a maldade derrubará o
trono dos poderosos.


Sabedoria 6


II. A NATUREZA DA SABEDORIA


Responsabilidade

dos
governantes

1.
Escutem, reis, e procurem compreender. Aprendam,
governantes de toda a terra.
2. Prestem atenção, vocês que dominam os povos e estão orgulhosos pelo
grande número de súditos.
3. O poder de vocês vem do Senhor, e o domínio vem do Altíssimo. Ele
examinará as obras que vocês praticarem e sondará as intenções que vocês têm.
4. No entanto, apesar de serem ministros do reino dele, vocês não
julgaram com retidão, não observaram a lei, nem procederam conforme a vontade de
Deus.
5. Por isso, ele cairá sobre vocês de modo repentino e terrível, porque
um julgamento implacável se realiza contra aqueles que ocupam altos cargos.
6. Os pequenos serão perdoados com misericórdia, mas os poderosos serão
examinados com rigor.
7. O Senhor de todos não recua diante de ninguém, nem se impressiona com
a grandeza, porque ele criou tanto o pequeno como o grande, e a sua providência
é igual para todos.
8. Mas um exame severo aguarda os poderosos.
9. É para vocês, soberanos, que eu dirijo as minhas palavras, para que
aprendam a sabedoria e não venham a cair.
10. Os que observam santamente a santa vontade dele, serão declarados
santos. E aqueles que a aprendem, encontrarão quem os defenda.
11. Desejem, portanto, ouvir as minhas palavras, anseiem por elas, e
vocês receberão a instrução.

A aprendizagem
da
sabedoria

12.
A Sabedoria é resplandecente, não murcha,
mostra-se facilmente para aqueles que a amam. Ela se deixa encontrar por aqueles
que a buscam.
13. Ela se antecipa, revelando-se espontaneamente aos que a desejam.
14. Quem por ela madruga, não terá grande trabalho, pois a encontrará
sentada junto à porta da sua casa.
15. Refletir sobre ela é a perfeição da inteligência, e quem cuida dela
ficará logo sem preocupações.
16. Ela mesma vai por toda parte, procurando os que são dignos dela:
aparece a eles bondosamente pelos caminhos, e lhes vai ao encontro em cada um
dos pensamentos deles.
17. O princípio da Sabedoria é o desejo autêntico de instrução, e a
preocupação pela instrução é o amor.
18. O amor é a observância das leis da Sabedoria. Por sua vez, a
observância das leis é garantia de imortalidade.
19. E a imortalidade faz com que a pessoa fique perto de Deus.
20. Portanto, o desejo pela sabedoria conduz ao reino.
21. Chefes dos povos, se vocês gostam de tronos e cetros, honrem a
sabedoria, e vocês reinarão para sempre.

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Todos
podem ter a

sabedoria

22.
Vou dizer a vocês o que é a sabedoria, e qual a
sua origem. Não esconderei seus mistérios. Investigarei suas manifestações desde
o princípio da criação, colocarei a descoberto o seu conhecimento, sem me
desviar da verdade.
23. Não vou caminhar com a inveja corrosiva, pois esta nada tem em comum
com a sabedoria.
24. O grande número de sábios é que salva o mundo, e um rei sábio traz
prosperidade para o povo.
25. Deixem, portanto, que as minhas palavras os instruam, e vocês tirarão
proveito disso.


Sabedoria 7

1. Eu também sou mortal como todos os outros, descendente do primeiro ser
que foi formado da terra. Fui formado de carne no seio de minha mãe,
2. e durante dez meses me solidifiquei no sangue, fruto do sêmen de um
homem e do prazer que acompanha o sono.
3. Quando nasci, eu também respirei o ar comum. Caí sobre a terra que
recebe a todos igualmente e, como todos os outros, estreei minha voz chorando.
4. Fui envolto em fraldas e cercado de cuidados,
5. porque nenhum rei começou a viver de outra forma.
6. A entrada e a saída da vida é igual para todos.
7. Por isso, eu supliquei e a inteligência me foi dada. Invoquei, e o
espírito da sabedoria veio até mim.
8. Eu a preferi aos cetros e tronos e, em comparação com ela, considerei
a riqueza como um nada.
9. Não a comparei com a pedra mais preciosa, porque todo o ouro, ao lado
dela, é como um punhado de areia. E junto dela, a prata vale o mesmo que um
punhado de barro.
10. Amei a sabedoria mais do que a saúde e a beleza, e resolvi tê-la como
luz, porque o brilho dela nunca se apaga.
11. Com ela me vieram todos os bens, e em suas mãos existe riqueza
incalculável.
12. Gozei de todos esses bens, porque é a sabedoria que os traz, mas eu
ignorava que fosse ela a mãe de todos eles.
13. Sem malícia, aprendi a sabedoria, e agora a distribuo sem inveja
nenhuma. Não vou esconder sua riqueza,
14. porque ela é um tesouro inesgotável para os homens. Aqueles que a
adquirem, atraem a amizade de Deus, porque são recomendados pelo dom da
instrução dela.

A sabedoria
produz
harmonia

15.
Deus me conceda falar com propriedade e pensar de
forma correspondente aos dons que me foram dados, porque ele é o guia da
sabedoria e o orientador dos sábios.
16. Em seu poder estamos nós, as nossas palavras, a nossa inteligência e
as nossas habilidades.
17. Ele me concedeu o conhecimento exato de tudo o que existe, para eu
compreender a estrutura do mundo e a propriedade dos elementos,
18. o começo, o meio e o fim dos tempos, a alternância dos solstícios e
as mudanças de estações,
19. os ciclos do ano e a posição dos astros,
20. a natureza dos animais e o instinto das feras, o poder dos espíritos
e o raciocínio dos homens, a variedade das plantas e a propriedade das raízes.
21. Aprendi tudo o que está oculto e tudo o que se pode ver, porque a
sabedoria, artífice de todas as coisas, foi quem me ensinou.

O
mistério da
sabedoria

22.
Na sabedoria há u0m espírito inteligente, santo,
único, múltiplo, sutil, móvel, penetrante, imaculado, lúcido, invulnerável,
amigo do bem, agudo,
23. livre, benéfico, amigo dos homens, estável, seguro, sereno, que tudo
pode e tudo abrange, que penetra todos os espíritos inteligentes, puros e
sutilíssimos.
24. A sabedoria é mais ágil que qualquer movimento, atravessando e
penetrando tudo por causa da sua pureza.
25. A sabedoria é exalação do poder de Deus, emanação puríssima da glória
do Onipotente e, por isso, nada de contaminado nela se infiltra.
26. Ela é reflexo da luz eterna, espelho nítido da atividade de Deus e
imagem da sua bondade.
27. Embora seja única, ela tudo pode. Permanece sempre a mesma, mas
renova tudo, e entrando nas almas santas, através das gerações, forma os amigos
de Deus e os profetas.
28. De fato, Deus ama somente aqueles que convivem com a sabedoria.
29. Ela é mais bela que o sol e supera todas as constelações de astros.
Comparada à luz do dia, ela sai ganhando,
30. pois a luz cede lugar à noite, mas contra a sabedoria o mal não
prevalece.


Sabedoria 8

1. Ela se estende vigorosamente de um extremo a outro, e governa
retamente o universo.

A companheira
ideal

2.
Amei a sabedoria e a busquei desde a minha
juventude, e procurei tomá-la como esposa, pois fiquei enamorado de sua
formosura.
3. A união com Deus manifesta a nobre origem dela, porque o Senhor do
universo amou-a.
4. De fato, ela é iniciada na ciência de Deus e seleciona as obras dele.
5. Se na vida a riqueza é um bem desejável, que riqueza é maior do que a
sabedoria, que tudo produz?
6. E se é a inteligência quem opera, quem mais do que ela é artífice do
que existe?
7. Se alguém ama a justiça, as virtudes são os seus frutos, pois é ela
quem ensina a temperança e a prudência, a justiça e a fortaleza, que são na vida
os bens mais úteis aos homens.
8. Se alguém deseja também uma rica experiência, ela conhece as coisas
passadas e entrevê as futuras, conhece a sutileza das máximas e a solução dos
enigmas. Prevê sinais e prodígios, e o desenrolar das épocas e tempos.
9. Decidi, portanto, tomá-la por companheira de minha vida, sabendo que
ela será boa conselheira e me trará conforto nas preocupações e no sofrimento.
10. Por causa dela, serei elogiado pelas assembléias e, ainda jovem, os
anciãos me honrarão.
11. No julgamento, terei agudeza e serei admirado pelos poderosos.
12. Se eu me calar, ficarão na expectativa; se eu falar, me prestarão
atenção; se eu prolongar o discurso, todos colocarão a mão na boca.
13. Por meio dela alcançarei a imortalidade, e deixarei aos meus
sucessores uma lembrança eterna.
14. Governarei os povos e dominarei as nações.
15. Tiranos terríveis ficarão assustados quando me ouvirem, mas serei bom
para o povo e corajoso no momento da guerra.
16. Ao voltar para casa, repousarei ao lado dela, porque a sua companhia
não provoca amargura, e a convivência com ela não traz nenhuma dor, mas
contentamento e alegria.

Oração
da
autoridade

17.
Refleti sobre essas coisas e meditei no meu
íntimo: a imortalidade está na união com a sabedoria,
18. e na sua amizade existe alegria perfeita; na obra de suas mãos existe
riqueza inesgotável, na relação assídua com ela se adquire a prudência, e na
participação de suas palavras se encontra a fama. Assim sendo, eu ia por toda a
parte procurando os meios de conquistá-la para mim.
19. Eu era um jovem de boas qualidades e tive a sorte de ter uma boa
alma,
20. ou melhor, sendo bom, vim a um corpo sem mancha.
21. Sabendo que jamais teria conquistado a sabedoria, se Deus não a
tivesse concedido a mim – e já era sinal de inteligência saber de quem vinha o
dom – voltei-me então para o Senhor e lhe supliquei, dizendo com todo o meu
coração:


Sabedoria 9

1. “Deus dos pais e Senhor de misericórdia, tudo criaste com a tua
palavra!
2. Com a tua sabedoria formaste o homem para dominar as criaturas que
fizeste,
3. para governar o mundo com santidade e justiça, e exercer o julgamento
com retidão de alma.
4. Concede-me a sabedoria, que está entronizada ao teu lado, e não me
excluas do número de teus filhos.
5. Eu sou teu servo, filho de tua serva, homem fraco e de vida breve,
incapaz de compreender a justiça e as leis.
6. Mesmo que alguém fosse o mais perfeito dos homens, se lhe faltasse a
sabedoria que provém de ti, ele de nada valeria.
7. Tu me escolheste como rei do teu povo e juiz dos teus filhos e filhas.
8. Tu me mandaste construir um templo sobre o teu santo monte, um altar
na cidade onde fixaste a tua tenda, cópia da tenda santa que tinhas preparado
desde o princípio.
9. Contigo está a sabedoria, que conhece as tuas obras e que estava
presente quando criaste o mundo. Ela sabe o que é agradável aos teus olhos e o
que é conforme aos teus mandamentos.
10. Manda a sabedoria desde o céu santo e a envia desde o teu trono
glorioso, para que ela me acompanhe e participe dos meus trabalhos, e me ensine
o que é agradável a ti.
11. Porque ela tudo sabe e tudo compreende. Ela me guiará prudentemente
em minhas ações e me protegerá com a glória dela.
12. Assim, as minhas obras serão agradáveis a ti, eu poderei governar com
justiça o teu povo, e serei digno do trono de meu pai.
13. Quem pode conhecer a vontade de Deus? Quem pode imaginar o que o
Senhor deseja?
14. Os pensamentos dos mortais são tímidos e nossos raciocínios são
falíveis,
15. porque um corpo corruptível torna pesada a alma, e a tenda de terra
oprime a mente pensativa.
16. Com muito custo, podemos conhecer o que está na terra e com
dificuldade encontramos o que está ao alcance da mão. Mas quem poderá investigar
o que está no céu?
17. Quem poderá conhecer o teu projeto, se tu não lhe deres sabedoria,
enviando do alto o teu espírito santo?
18. Somente assim foram endireitados todos os caminhos de quem vive sobre
a terra. Somente assim os homens aprenderam aquilo que te agrada. Eles foram
salvos por meio da sabedoria”.


Sabedoria 10


III. A SABEDORIA DIRIGE A HISTÓRIA



1. A sabedoria nas raízes do povo

1.
A sabedoria protegeu o pai do mundo, o primeiro
homem formado por Deus e que foi criado sozinho. Ela o libertou de sua própria
queda,
2. e lhe deu força para dominar todas as coisas,
3. mas um injusto se afastou dela com sua cólera e pereceu na sua própria
ira fratricida.
4. Por causa dele, a terra foi inundada, mas a sabedoria de novo o
salvou, conduzindo o justo numa frágil embarcação.
5. Quando as nações aderiram à maldade e foram confundidas, ela
reconheceu o justo e o conservou sem mancha diante de Deus e o manteve forte,
apesar da sua ternura pelo filho.
6. E enquanto os ímpios pereciam, ela salvou um justo em fuga diante do
fogo que caía sobre cinco cidades.
7. Como testemunho dessa gente perversa, resta ainda uma terra deserta e
fumegante, junto com árvores de frutos que não amadurecem, e a estátua de sal
que se ergue como lembrança de uma alma incrédula.
8. Porque, desprezando a sabedoria, não só se prejudicaram ignorando o
bem, mas deixaram para os insensatos uma lembrança de sua insensatez, para que
suas faltas não ficassem escondidas.
9. A sabedoria, porém, libertou dos sofrimentos os seus fiéis.
10. Por caminhos planos, ela guiou o justo, que fugia da ira do irmão,
mostrou-lhe o reino de Deus e lhe revelou as coisas santas. Deu-lhe sucesso em
suas fadigas e multiplicou os frutos do seu trabalho.
11. Ela o protegeu contra a cobiça de seus adversários e o tornou rico.
12. Ela o guardou de seus inimigos e o defendeu de todos os que lhe
armavam ciladas. Deu-lhe a vitória numa dura luta, para lhe mostrar que a
piedade é mais forte do que tudo.
13. A sabedoria não abandonou o justo que tinha sido vendido, e o
preservou do pecado.
14. Ela desceu com ele à cisterna, e não o abandonou na prisão, até
conseguir para ele o cetro real e o poder sobre seus próprios adversários.
Desmascarou os que o caluniavam e lhe deu fama perene.


2. A sabedoria constrói a libertação


Da

escravidão
para a

liberdade

15.
A sabedoria libertou de uma nação de opressores um
povo santo, uma raça irrepreensível.
16. Ela entrou na alma de um servo do Senhor e, com prodígios e sinais,
enfrentou reis temíveis.
17. Deu aos santos a recompensa pelos sofrimentos que tinham passado, e
os guiou por um caminho maravilhoso. Tornou-se para eles abrigo durante o dia e
esplendor de estrelas durante a noite.
18. Ela os fez atravessar o mar Vermelho e os guiou através de águas
impetuosas.
19. Fez com que seus inimigos se afogassem, e depois vomitou-os das
profundezas do mar.
20. Desse modo, os justos despojaram os injustos, e celebraram o teu
santo nome, Senhor, louvando juntos o teu braço protetor.
21. Porque a sabedoria abriu a boca dos mudos e soltou a língua dos
pequeninos.


Sabedoria 11

1. A sabedoria levou a bom termo os empreendimentos do povo por meio de
um santo profeta.
2. Eles atravessaram um deserto desabitado, armaram as tendas em lugares
inacessíveis,
3. resistiram aos adversários e repeliram os inimigos.
4. Quando tiveram sede, eles te invocaram, e uma rocha escarpada lhes deu
água, uma pedra dura lhes matou a sede.
5. Aquilo que tinha servido como castigo para seus inimigos, tornou-se
para eles benefício na necessidade.
6. Em lugar da água corrente de um rio, turvado de sangue podre,
7. como castigo pelo decreto infanticida, tu lhes deste inesperadamente
água abundante.
8. Pela sede que estavam sentindo, tu lhes mostraste como havias
castigado seus inimigos.
9. De fato, quando sentiam provações, embora fossem corrigidos com
misericórdia, compreendiam os tormentos dos injustos, que eram julgados com ira.
10. Porque tu os provaste como pai que corrige, e castigaste os outros
como rei severo que condena.
11. Longe ou perto, foram atingidos do mesmo modo,
12. porque dupla aflição os oprimiu. E choraram, lembrando-se do que lhes
acontecera.
13. De fato, quando ficaram sabendo que o castigo era fonte de benefício
para os outros, sentiram a presença do Senhor.
14. Pois aquele que outrora fora rejeitado, exposto e desprezado com
zombarias, no fim dos acontecimentos foi admirado por eles, quando estavam
sofrendo uma sede diferente da sede dos justos.

Conseqüências
da
idolatria

15.
Por causa dos raciocínios insensatos da injustiça
deles, erraram e adoraram répteis privados de razão e animais desprezíveis. Como
castigo, enviaste a eles multidões de animais irracionais,
16. para aprenderem que cada um é castigado através daquilo mesmo com que
peca.
17. Para a tua mão onipotente, que da matéria informe criou o mundo, não
teria sido difícil mandar contra eles bandos de ursos e leões ferozes,
18. ou feras desconhecidas e recém-criadas, cheias de furor, espirando
hálito de fogo e expelindo turbilhões de vapor pestilento, e lançando pelos
olhos relâmpagos terríveis.
19. Animais que não só poderiam exterminá-los com o seu furor, mas
aniquilá-los somente com seu aspecto apavorante.
20. Mesmo sem nada disso, poderiam sucumbir com um sopro apenas,
perseguidos pela justiça e espalhados pelo sopro do teu poder. Mas tudo
dispuseste com medida, número e peso.
21. Prevalecer com a força é sempre possível para ti. Quem poderia
opor-se ao poder do teu braço?
22. O mundo inteiro diante de ti é como grão de areia na balança, como
gota de orvalho matutino caindo sobre a terra.
23. Todavia, tu tens compaixão de todos, porque podes tudo, e não levas
em conta os pecados dos homens, para que eles se arrependam.
24. Tu amas tudo o que existe, e não desprezas nada do que criaste. Se
odiasses alguma coisa, não a terias criado.
25. De que modo poderia alguma coisa subsistir, se tu não a quisesses?
Como se poderia conservar alguma coisa se tu não a tivesses chamado à
existência?
26. Tu, porém, poupas todas as coisas, porque todas pertencem a ti,
Senhor, o amigo da vida.

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Sabedoria 12

1. O teu espírito incorruptível está em todas as coisas.
2. Por isso, castigas com brandura os que erram. Tu os admoestas,
fazendo-os lembrar os pecados que cometeram, para que, afastando-se da maldade,
acreditem em ti, Senhor.

Um
projeto voltado para a

vida

3.
Tu odiavas os antigos habitantes da tua terra
santa,
4. porque faziam coisas detestáveis, praticavam magia e ritos sacrílegos.
5. Assassinavam impiedosamente seus próprios filhos, realizavam banquetes
em que devoravam entranhas, carne humana e sangue. A esses iniciados em orgias,
6. pais assassinos de seres indefesos, tu os quiseste destruir pela mão
de nossos antepassados.
7. Tudo isso, para que esta terra, mais estimada por ti do que qualquer
outra, recebesse uma população digna, formada por filhos de Deus.
8. Mas também com eles, porque eram homens, tu os trataste com
indulgência, mandando vespas contra eles, como precursores do teu exército, a
fim de os destruir pouco a pouco.
9. Tu bem podias ter entregue os injustos na mão dos justos durante uma
batalha, ou destruí-los com animais ferozes, ou ainda com uma ordem repentina e
sem apelação.
10. Mas tu os castigaste pouco a pouco, dando-lhes oportunidade de se
arrependerem, embora não ignorasses que vinham de uma raça perversa, que a
maldade deles era inata e que nunca mudariam de mentalidade,
11. porque desde a origem vinham de uma raça maldita. Certamente não era
por medo de ninguém que tu não castigaste a culpa deles.
12. De fato, quem poderia perguntar a ti: O que foi que fizeste? Quem
ousaria opor-se à tua decisão? Quem te acusaria por destruir nações que criaste?
Quem se apresentaria contra ti para defender homens injustos?
13. Por outro lado, além de ti, não há outro Deus que cuide de todas as
coisas, e diante de quem devas defender-te da acusação de ser juiz injusto.
14. Nenhum rei ou soberano pode confrontar-se contigo para defender
aqueles que tu castigaste.
15. Tu, porém, és justo, e governas todas as coisas com justiça.
Consideras incompatível com o teu poder condenar alguém que não mereça castigo.
16. De fato, a tua força é princípio de justiça, e o teu domínio
universal faz que sejas indulgente para com todos.
17. Tu mostras tua força para quem não acredita na perfeição do teu
poder, e confundes a insolência daqueles que o conhecem.
18. Apesar de tudo, dominas a tua própria força e julgas com brandura. Tu
nos governas com muita indulgência, porque tu podes exercer o poder quando
queres.

Justiça,
misericórdia e
vida

19.
Com tal modo de agir, tu ensinaste ao teu povo que
o justo deve amar os homens, e infundiste em teus filhos a esperança, porque
concedes aos homens a possibilidade de se converterem depois de pecar.
20. Puniste os inimigos de teus filhos com grande brandura e indulgência,
dando-lhes tempo e ocasião para se converterem de sua maldade, quando na verdade
eram réus de morte.
21. Com quanto maior cuidado julgas os teus filhos, a cujos pais
concedeste com juramento a tua aliança, garantia de tão boas promessas!
22. Assim, para nos educar, tu castigas os nossos inimigos com moderação,
para que nós, quando julgarmos, lembremos sempre a tua bondade; e, quando formos
julgados, contemos sempre com a tua misericórdia.
23. Atormentaste os insensatos que viveram vida injusta, castigando-os
com as suas próprias abominações.
24. Eles se haviam extraviado muito longe pelo caminho do erro,
considerando como deuses os mais desprezíveis e repugnantes animais, deixando-se
enganar como crianças que não têm o uso da razão.
25. Por isso, como crianças que ainda não refletem, tu os submeteste a um
julgamento de zombaria.
26. Os que não se corrigissem com o julgamento de zombaria teriam que
sofrer um castigo digno, mandado por Deus.
27. De fato, ficaram exasperados com os sofrimentos causados por esses
animais, porque foram castigados pelos mesmos seres que eles consideravam como
deuses. Então viram claramente e reconheceram o Deus verdadeiro, que antes
recusavam reconhecer. Por isso sobre eles recaiu a maior das condenações.


Sabedoria 13


3. O julgamento da idolatria


As

criaturas
testemunham o

Criador

1.
São naturalmente insensatos todos os homens que
ignoram a Deus e que, através dos bens visíveis, não chegam a reconhecer Aquele
que existe. Consideram as obras, mas não reconhecem o seu Artífice.
2. E acabam considerando, como deuses e governadores do mundo, o fogo, ou
o vento, ou a brisa fugaz, ou o firmamento estrelado, ou a água impetuosa, ou
ainda os luzeiros do céu.
3. Se ficam fascinados com a beleza dessas coisas, a ponto de tomá-las
como deuses, reconheçam o quanto está acima delas o Senhor, pois foi o autor da
beleza quem as criou.
4. Se ficam maravilhados com o poder e atividade dessas coisas, pensem
então quanto mais poderoso é Aquele que as formou.
5. Sim, porque a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por comparação,
contemplar o Autor delas.
6. Esses, porém, merecem repreensão menor, porque talvez se tenham
extraviado procurando a Deus e querendo encontrá-lo.
7. Vivendo no meio das obras dele, procuram pesquisá-las, e a aparência
delas os fascina, tanta é a beleza do que se vê.
8. Contudo, mesmo esses não têm desculpa,
9. porque, se foram capazes de conhecer tanto, a ponto de pesquisar o
universo, como não encontraram mais depressa o Senhor do universo?

Inutilidade
dos
ídolos

10.
Infelizes também são aqueles que depositam sua
esperança em coisas mortas, e que invocam como deuses as obras de mãos humanas:
coisas de ouro e prata, trabalhadas com arte, figuras de animais, ou uma pedra
sem valor, obra de mão antiga.
11. Um carpinteiro, por exemplo, serra uma árvore fácil de manejar.
Depois lhe tira cuidadosamente toda a casca, trabalha a madeira com habilidade e
fabrica um móvel, útil para as necessidades da vida.
12. Terminado o trabalho, ele recolhe as sobras da madeira, as emprega
para preparar a comida, e se farta.
13. Da sobra de tudo, que não serve para nada, madeira retorcida e cheia
de nós, ele a pega e a esculpe nos momentos de lazer. Para se distrair, modela a
madeira com capricho, e lhe dá o formato de um homem,
14. ou então a forma de algum animal desprezível. Depois pinta o ídolo de
vermelho e cobre de massa todos os seus defeitos.
15. A seguir, prepara-lhe um nicho digno dele, e o coloca na parede,
prendendo-o com um prego.
16. Toma esses cuidados para que não caia, sabendo que o ídolo não pode
cuidar de si mesmo: é apenas uma imagem, e precisa de ajuda.
17. Entretanto, logo em seguida lhe dirige orações por seus bens,
casamento e filhos, sem se envergonhar de ficar falando com uma coisa sem vida.
Para a saúde, invoca o que é frágil.
18. Para a vida, faz súplicas àquilo que é morto. Para um auxílio, pede
ajuda àquilo que não tem experiência. Para uma viagem, dirige-se a quem não pode
dar um passo.
19. Para seus negócios, trabalhos e sucesso nos empreendimentos, pede
forças a quem não tem força nenhuma nas mãos.


Sabedoria 14

1. Outro, lançando-se ao mar para navegar sobre ondas increspadas, invoca
um ídolo de madeira, mais frágil do que o barco que o transporta.
2. Ora, o barco foi criado pela ânsia de lucro, e foi a perícia técnica
que o construiu.
3. Mas é a tua providência, ó Pai, que o pilota, pois também no mar
abriste um caminho, uma rota segura entre as ondas.
4. Isso fizeste para mostrar que tu podes salvar de tudo, e assim, mesmo
sem experiência, qualquer pessoa possa embarcar.
5. Tu não queres que as obras da tua sabedoria não sirvam para nada. Por
isso os homens confiam suas próprias vidas a um pequeno pedaço de madeira,
atravessam as ondas numa frágil embarcação, e chegam a salvo no destino.
6. De fato, no princípio, quando pereciam os orgulhosos gigantes de
outrora, a esperança do mundo se refugiou num pequeno barco que, pilotado por
tua mão, transmitiu para o mundo a semente da vida.
7. Bendita seja a madeira pela qual vem a justiça!
8. Contudo, maldito seja o ídolo feito por mãos humanas e aquele que o
fabricou. Este, por tê-lo feito; e o ídolo, porque, sendo corruptível, foi
considerado como deus.
9. Sim, porque Deus odeia tanto o idólatra como a idolatria.
10. A obra será castigada com o seu autor.
11. Por isso, o julgamento atingirá também os ídolos das nações. Porque,
entre as criaturas de Deus, eles se tornaram abomináveis, escândalo para as
almas dos homens, e armadilha para os pés dos insensatos.

Origem
do culto aos
ídolos

12.
A invenção dos ídolos foi o começo da prostituição
e a descoberta deles introduziu a corrupção na vida.
13. Eles não existiam no princípio, e não existirão para sempre.
14. Entraram no mundo por causa da vaidade dos homens, e por isso o seu
fim rápido já está decretado.
15. Um pai, atormentado por um luto prematuro, manda fazer uma imagem do
filho tão cedo arrebatado. Agora honra como deus aquele que antes era apenas um
homem morto, e transmite para as pessoas de sua casa ritos secretos e
cerimônias.
16. Com o tempo, esse costume ímpio se vai arraigando, e é observado como
lei.
17. Era ainda por ordem dos soberanos que se prestava culto às estátuas.
Como os súditos que viviam longe não podiam honrá-los pessoalmente, reproduziram
sua figura distante, fazendo uma imagem visível do rei que veneravam. Desse
modo, adulavam o ausente, como se estivesse presente.
18. A ambição do artista promoveu esse culto, mesmo entre aqueles que não
conheciam o soberano.
19. De fato, querendo talvez agradar ao soberano, o artista se esforçou,
com sua arte, para torná-lo ainda mais atraente do que na realidade era.
20. A multidão, atraída pelo encanto da obra, considera agora objeto de
adoração aquele a quem antes honravam apenas como homem.
21. Isso tornou-se cilada para o mundo: homens, escravizados pela
desgraça ou pelo poder, impuseram à pedra e à madeira o Nome incomunicável.

A idolatria
é a fonte da

corrupção

22.
Não bastou a esses homens errar no conhecimento de
Deus. Eles vivem também na grande guerra da ignorância, e dão ainda a esses
males o nome de paz.
23. Celebram iniciações onde matam crianças ou realizam mistérios
ocultos, ou ainda fazem banquetes orgiásticos com rituais estranhos.
24. Não conservam pura nem a vida, nem o casamento, e cada um elimina o
outro por traição ou aflige-o com adultério.
25. Por toda parte há uma grande confusão, sangue e crime, roubo e
fraude, corrupção e deslealdade, revolta e perjúrio,
26. perseguição contra os bons e esquecimento da gratidão, impureza das
almas e perversão sexual, desordens no casamento, adultério e libertinagem.
27. A adoração de ídolos sem nome é princípio, causa e fim de todo o mal.
28. De fato, os idólatras entregam-se a divertimentos até o delírio, ou
profetizam a mentira, ou vivem na injustiça, ou perjuram com facilidade.
29. Colocando sua confiança em ídolos sem vida, eles não esperam castigo
nenhum por terem jurado falso.
30. A sentença, porém, os atingirá por dois motivos: porque, seguindo os
ídolos, tiveram falsa concepção de Deus, e porque, desprezando a santidade,
juraram falso.
31. De fato, o que persegue sempre a transgressão dos injustos não é o
poder daqueles por quem se jura, mas o castigo mesmo, que é reservado aos
pecadores.


Sabedoria 15

O povo de Deus
não adora
ídolos

1.
Tu, porém, nosso Deus, és bom e fiel, és paciente
e governas tudo com misericórdia.
2. Mesmo pecando, nós somos teus e conhecemos o teu poder. Sabendo que
pertencemos a ti, não pecaremos mais.
3. A justiça perfeita está em conhecer a ti, e conhecer que o teu poder é
a raiz da imortalidade.
4. Não nos extraviamos com a invenção humana de uma arte pervertida, nem
com o trabalho estéril dos pintores, que pintam suas imagens com várias cores.
5. Elas despertam a paixão dos insensatos, que ficam entusiasmados com a
forma inerte de uma imagem morta.
6. Aqueles que fazem, desejam e adoram os ídolos, são amantes do mal e
dignos da esperança que os ídolos trazem.

O
importante é ganhar dinheiro!

7.
Amassando com fadiga a terra mole, o oleiro modela
para nosso uso todo tipo de vasos. Com o mesmo barro, modela tanto os vasos que
servem para uso nobre, como também aqueles destinados para outros fins. O oleiro
determina qual deverá ser o uso de cada um deles.
8. Depois, dando-se a um esforço mal empregado, com o mesmo barro modela
uma divindade falsa. O oleiro tinha pouco antes nascido da terra, e logo voltará
para a terra de onde foi tirado. E então Deus lhe pedirá contas da vida que lhe
tinha sido emprestada.
9. Mas ele não se preocupa com o fato de ter vida breve e depois morrer.
Pelo contrário, compete com os que moldam em ouro e prata, imita os que
trabalham com bronze, e se vangloria de fabricar coisas falsas.
10. A mente dele é pura cinza, sua esperança é mais desprezível do que a
terra, e sua vida vale menos do que o barro,
11. porque não reconhece Aquele que o modelou, lhe infundiu alma ativa e
lhe inspirou sopro vital.
12. O oleiro considera a nossa vida como um jogo, e a existência como
negócio lucrativo. Ele diz: “É preciso tirar proveito de tudo, até mesmo do
mal”.
13. Sim, mais do que todos os outros, esse homem sabe que está pecando:
fabrica de matéria terrestre vasos frágeis e estátuas de ídolos.

Insensatez
dos
idólatras

14.
Mas os inimigos que oprimiram o teu povo são muito
mais insensatos e infelizes que a alma de uma criança.
15. De fato, eles consideraram como deuses todos os ídolos dos pagãos. Os
olhos desses ídolos não os ajudam a ver, nem o nariz a respirar o ar, nem os
ouvidos a ouvir, nem os dedos das mãos a apalpar, e seus pés são incapazes de
caminhar.
16. Porque foi um homem quem os fez. Quem os modelou foi um ser que
recebeu a respiração por empréstimo. Nenhum homem pode plasmar um deus que lhe
seja semelhante,
17. pois, sendo mortal, suas mãos ímpias só podem produzir um cadáver. O
homem é melhor do que os objetos que ele adora. O homem, pelo menos, tem a vida;
mas os ídolos jamais a terão.
18. Eles adoram até os mais repugnantes animais que, comparados com
outros, são mais estúpidos.
19. Esses animais não têm nenhuma beleza que os torne atraentes, como
acontece com os outros animais, e não tiveram o elogio e a bênção de Deus.

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Sabedoria 16


4. A natureza participa da libertação


As

duas
faces da ação de

Deus

1.
Por isso, os egípcios foram justamente castigados
com seres semelhantes e atormentados por numerosos animaizinhos.
2. Em vez de tal castigo, tu beneficiaste o teu povo e, para lhe
satisfazer o intenso apetite, tu lhe trouxeste codornizes, alimento
extraordinário.
3. Desse modo, enquanto os egípcios ficavam famintos e perdiam o apetite
natural, enojados com os bichos que lhes tinhas enviado, as pessoas do teu povo,
depois de passarem um pouco de necessidade, repartiam entre si um alimento
extraordinário.
4. De fato, era preciso que os opressores sofressem carestia inevitável.
Ao teu povo, porém, bastava que lhe fosse mostrado como os inimigos estavam
sendo atormentados.

Castigo
que
educa

5.
Quando caiu sobre eles a fúria terrível das feras,
e morriam mordidos por serpentes tortuosas, tua cólera não durou até o fim.
6. Foram assustados por pouco tempo e como correção, mas receberam um
sinal de salvação, para lhes recordar o mandamento da tua Lei.
7. Quem se voltava para o sinal era salvo, não pelo que via, mas graças a
ti, o Salvador de todos.
8. Desse modo, convenceste os nossos inimigos de que és tu quem livra de
todo o mal.
9. Porque eles morreram com as picadas de gafanhotos e moscas, e não
houve remédio que os salvasse, pois mereciam ser assim castigados.
10. Quanto aos teus filhos, nem mesmo as presas de serpentes venenosas
conseguiram vencê-los, porque a tua misericórdia interveio e os salvou.
11. Para que se lembrassem de tuas palavras, eram mordidos e logo depois
curados, para não caírem no profundo esquecimento e serem excluídos de teus
benefícios.
12. Não foi erva nem ungüento que os curou, e sim a tua palavra, Senhor,
que cura todas as coisas.
13. Sim, porque tu tens poder sobre a vida e a morte, e fazes descer às
portas do reino dos mortos, e de lá subir.
14. O homem, na sua maldade, pode matar, mas não é capaz de fazer voltar
o espírito que se exalou, nem libertar a alma que foi recolhida no reino dos
mortos.

A natureza
serve ao projeto de

Deus

15.
É impossível escapar de tua mão.
16. Os injustos recusavam reconhecer-te, e tu os açoitaste com a força do
teu braço: foram perseguidos com chuvas estranhas, granizo, tempestades
violentas, e devorados pelo fogo.
17. O mais surpreendente foi que, na água que apaga tudo, o fogo ardia
mais ainda. É que o universo é aliado dos justos.
18. Às vezes, a chama se abrandava para não queimar os animais enviados
contra os injustos. Desse modo, eles podiam ver e compreender que estavam sendo
perseguidos pelo julgamento de Deus.
19. Outras vezes, mesmo dentro da água, a chama ardia mais forte do que o
fogo, para destruir os produtos de uma terra injusta.
20. Ao teu povo acontecia o contrário: tu o alimentavas com alimento de
anjos, oferecendo-lhe do céu o pão já preparado, que proporcionava todos os
sabores e satisfazia o gosto de todos.
21. Esse alimento mostrava a tua doçura para com os teus filhos. Ele se
adaptava ao gosto de quem o comia e se transformava naquilo que cada um
desejava.
22. A neve e o gelo resistiam ao fogo, sem se derreter. Desse modo,
tornou-se claro que o fogo, ardendo no meio do granizo e relampejando no meio da
chuva, destruía os frutos dos inimigos.
23. O mesmo fogo, porém, noutra ocasião, esquecia a própria força, para
que os justos pudessem alimentar-se.
24. De fato, a criação obedece a ti, seu Criador: ela se inflama para
punir os injustos, e se abranda para beneficiar os que em ti confiam.
25. Ela também se revestia de todas as formas, colocando-se a serviço da
tua bondade, que a todos alimenta, conforme o desejo de quem está em
necessidade.
26. Dessa forma, Senhor, os teus filhos queridos aprenderam que não é a
produção de frutos que alimenta o homem, mas é a tua palavra que sustenta os que
acreditam em ti.
27. Pois aquilo que o fogo não devorava, logo se derretia ao calor de um
raio de sol.
28. Desse modo, eles ficaram sabendo que é preciso levantar-se antes do
sol para te agradecer, e invocar-te desde o raiar do dia.
29. Ficaram também sabendo que a esperança do ingrato se derrete como a
geada de inverno, e se espalha como água que não é utilizada.


Sabedoria 17

A escuridão da
consciência

1.
Teus julgamentos são grandes e difíceis de
compreender. Por isso, as almas sem instrução se extraviaram.
2. Os injustos, imaginando que podiam oprimir uma nação santa, ficaram
presos pelas trevas, prisioneiros de uma longa noite, fechados em suas casas e
excluídos da providência eterna.
3. Pensavam ficar ocultos com seus pecados secretos, debaixo do véu
sombrio do esquecimento. Mas foram dispersos, mergulhados em horrível medo e
aterrorizados por alucinações.
4. Pois nem o esconderijo em que se abrigavam os preservou do medo: ao
redor deles, ribombavam ruídos assustadores e lhes apareciam fantasmas tétricos
de rostos sinistros.
5. Nenhum fogo, por mais intenso que fosse, conseguia iluminá-los, nem as
luzes brilhantes dos astros conseguiam aclarar aquela noite tenebrosa.
6. Aparecia-lhes apenas uma chama, que se acendia, por si mesma,
espalhando terror. Quando essa visão desaparecia da frente deles, ficavam
aterrorizados e julgavam ainda pior o que tinham acabado de ver.
7. Os artifícios da magia fracassaram completamente, e seu alarde de
ciência ficou vergonhosamente confundido.
8. De fato, aqueles que prometiam expulsar das almas enfermas os terrores
e inquietações, caíam eles próprios vítimas de pânico grotesco.
9. Mesmo que nada de inquietante os amedrontasse, eles ficavam assustados
com a passagem de pequenos animais e sibilos de cobras. Caíam tremendo e
recusavam olhar o próprio ar, coisa impossível de ser evitada.
10. Com efeito, a maldade é medrosa e se condena por seu próprio
testemunho. Pressionada pela consciência, imagina sempre o pior.
11. Porque o medo é apenas a falta do socorro que vem da reflexão:
12. quanto menos reflexão interior tivermos, mais alarmante parecerá ser
a causa oculta do tormento.
13. Durante aquela noite realmente incapaz, saída das profundezas do
impotente reino dos mortos, e todos entregues ao mesmo sono,
14. eles eram, ora perseguidos por fantasmas monstruosos, ora ficavam
paralisados pelo abatimento da alma, invadidos pelo terror inesperado e
repentino que caía sobre eles.
15. Assim, todo aquele que aí caísse, quem quer que fosse, ficava preso e
trancado numa prisão sem trancas.
16. Podia ser agricultor ou pastor, ou ainda operário que trabalhava em
lugares desertos. Surpreendida, a pessoa caía na fatalidade inevitável, porque
todos estavam acorrentados pela mesma corrente de trevas.
17. O assobiar do vento, o canto melodioso de pássaros na ramagem
frondosa, o murmúrio da impetuosa água corrente, o ruído surdo de rochas caindo
em avalanches,
18. a correria invisível de animais saltitantes, o rosnar das feras mais
selvagens, o eco retumbante das cavernas das montanhas, tudo isso os paralisava
e os enchia de terror.
19. O mundo inteiro, iluminado por luz radiante, se entregava aos seus
trabalhos.
20. Somente sobre eles se estendia a noite profunda, imagem das trevas
que os deviam receber. Contudo, eles mesmos eram para si próprios mais pesados
do que as trevas.


Sabedoria 18

1. Para os teus santos, porém, havia plena luz. Os outros, que lhes
ouviam as vozes, mas não lhes viam a figura, os felicitavam por não estarem
sofrendo.
2. Também lhes agradeciam por não lhes terem feito mal, apesar de
maltratados, e lhes pediam por favor que fossem embora.
3. Em vez de trevas, deste aos teus uma coluna de fogo, para guiá-los no
caminho desconhecido, como sol inofensivo que iluminava sua gloriosa migração.
4. Os outros mereciam ficar sem luz e aprisionados pelas trevas, porque
haviam aprisionado os teus filhos, que iriam transmitir ao mundo a luz
incorruptível da tua Lei.

Libertação
e
julgamento

5.
Eles decidiram matar os filhos dos santos, e um só
menino, abandonado, se salvou. Como castigo, eliminaste os filhos deles em
massa, e os fizeste morrer todos nas águas impetuosas.
6. Aquela noite já fora anunciada aos nossos antepassados, para que
tivessem ânimo, sabendo com certeza em que promessas haviam acreditado.
7. Teu povo esperava a salvação dos justos e a ruína dos inimigos.
8. E, de fato, enquanto punias os adversários, tu nos cobrias de glória,
chamando-nos para ti.
9. Os filhos santos dos justos ofereciam sacrifícios às escondidas e, de
comum acordo, estabeleceram esta lei divina: os santos participariam
solidariamente dos mesmos bens e perigos. E fariam isso entoando os cânticos dos
antepassados.
10. Serviam como eco os gritos confusos dos inimigos, e ressoavam as
lamentações dos que choravam seus filhos.
11. O mesmo castigo atingiu o escravo e o patrão, e o homem comum sofreu
a mesma pena que o rei.
12. Todos tinham mortos sem conta, vítimas do mesmo tipo de morte, e os
vivos eram insuficientes para enterrá-los. Num só instante morreu o melhor da
geração deles.
13. Embora desacreditassem de tudo por causa de sua magia, quando seus
primogênitos morreram eles reconheceram que aquele povo era filho de Deus.
14. Enquanto um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite
estava pela metade,
15. a tua palavra todo-poderosa veio do alto do céu, do teu trono real,
como guerreiro implacável, e se atirou sobre uma terra condenada ao extermínio.
Ela trazia, como espada afiada, a tua ordem sem apelação.
16. Parou e encheu tudo de morte: tocava o céu e caminhava sobre a terra.
17. Então, subitamente, fantasmas de sonhos terríveis os abalaram, e
terrores inesperados se apoderaram deles.
18. Caíam semimortos por toda parte, mostrando a causa de sua morte.
19. De fato, sonhos pavorosos já os tinham avisado sobre o acontecimento,
para não morrerem sem saber o motivo do seu sofrimento.

Com
Deus não se brinca!

20.
Também os justos foram atingidos pela provação da
morte, e no deserto foi abatido um grupo numeroso. Mas a ira não durou muito
tempo,
21. porque um homem irrepreensível apressou-se em defendê-los. Manejando
as armas do seu ministério sacerdotal, a oração e o incenso pelos pecados, ele
enfrentou a ira divina e deu fim à desgraça, mostrando que era teu servo.
22. Venceu a ira divina, não com a força do corpo, nem pelo poder das
armas. Ele venceu com a palavra que aplacou aquele que castigava, recordando-lhe
as promessas e as alianças feitas com os antepassados.
23. Os mortos tinham caído aos montes, uns sobre os outros. Ele, porém,
colocou-se no meio deles, deteve a ira e cortou o caminho dela, para que não
atingisse os sobreviventes.
24. Sobre a sua longa veste estava o mundo inteiro: em quatro fileiras de
pedras preciosas estavam inscritos os nomes gloriosos dos antepassados, e sobre
a coroa da cabeça dele estava a tua majestade.
25. Diante disso tudo, o exterminador recuou com medo. A simples
experiência da ira já fora suficiente.


Sabedoria 19

A natureza participa da
libertação

1.
Contra os injustos, porém, a ira divina foi
implacável até o fim. Porque Deus sabia de antemão o que iriam fazer.
2. Eles iriam permitir que os justos saíssem, e até insistiriam para que
partissem o quanto antes. Depois, mudariam de opinião e os perseguiriam.
3. De fato, ainda estavam de luto, chorando junto aos túmulos de seus
mortos, quando tomaram uma decisão insensata: perseguiram como fugitivos aqueles
a quem antes tinham suplicado que partissem.
4. O destino merecido os arrastava para esse desfecho, e os fazia
esquecer o que já lhes havia acontecido. Desse modo, estavam acrescentando a
seus sofrimentos o castigo que faltava.
5. Enquanto o teu povo faria a experiência de uma viagem maravilhosa,
eles encontrariam morte nunca vista.
6. Porque a criação inteira, obedecendo às tuas ordens, tomava novas
formas segundo o seu gênero, para que os teus filhos fossem preservados, sãos e
salvos.
7. Apareceu a nuvem, que cobriu de sombra o acampamento, e a terra firme
surgiu, onde antes era água. O mar Vermelho se transformou em caminho livre, e
as ondas violentas se tornaram planície verdejante.
8. Através dele passou todo o teu povo, protegido por tua mão e
contemplando prodígios admiráveis.
9. Como cavalos conduzidos ao pasto e como ovelhas saltitantes, todos
cantavam hinos para ti, Senhor, seu libertador.
10. Lembravam-se ainda do que acontecera no estrangeiro: em lugar de
animais, a terra produziu moscas; em vez de peixes, o rio vomitou multidão de
rãs.
11. Mais tarde, viram também uma nova espécie de aves quando, levados
pelo desejo, pediam alimentos delicados.
12. Para satisfazê-los, do mar subiram codornizes.

A traição
da
humanidade

13.
Sobre os pecadores caíram castigos, não sem antes
o aviso prévio de raios estrondosos. Eles sofreram justamente, por causa de sua
própria perversidade, por terem odiado cruelmente os estrangeiros.
14. Outros povos não acolheram visitantes desconhecidos. Os egípcios,
porém, escravizaram estrangeiros benfeitores.
15. E mais ainda: é certo que para os outros povos haverá um castigo por
terem recebido hostilmente os estrangeiros.
16. Os egípcios, porém, depois de receber com festas e fazer os
estrangeiros participar de seus direitos, acabaram atormentando esses
estrangeiros com trabalhos duríssimos.
17. Por isso, foram feridos de cegueira, como tinha acontecido com
aqueles junto à porta do justo, quando, cercados de trevas profundas, cada um
procurava, tateando, a direção de sua própria casa.

Rumo
à grande
harmonia

18.
Os elementos da natureza trocavam suas
propriedades entre si, da mesma forma que na harpa as notas modificam o
desenvolvimento da música, mas conservando sempre o mesmo tom. É o que se pode
perceber, olhando o que aconteceu:
19. os seres terrestres se transformavam em aquáticos, e os que nadam
saltavam para a terra.
20. Na água, o fogo aumentava mais ainda a sua força, e a água se
esquecia do seu poder de apagá-lo.
21. Por outro lado, as chamas não queimavam a carne dos animais que
andavam entre elas, e também não derretiam aquele alimento celeste, parecido com
gelo e fácil de derreter.

Conclusão

22.
Sim, ó Senhor! De todos os modos engrandeceste e
tornaste glorioso o teu povo. Nunca, em nenhum lugar, deixaste de olhar por ele
e de o socorrer.



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